Lição 7: Tentação — A batalha por nossas escolhas e atitudes
1º Trimestre de 2019
1º Trimestre de 2019
ESBOÇO GERAL
INTRODUÇÃO
INTRODUÇÃO
I. A TENTAÇÃO
II. A TENTAÇÃO DE JESUS
II. A TENTAÇÃO DE JESUS
III. A TRÍPLICE TENTAÇÃO
CONCLUSÃO
CONCLUSÃO
OBJETIVOS GERAL
Mostrar que Jesus venceu a tentação.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
I. Conceituar a tentação;
II. Explicar o processo da tentação de Jesus;
III. Elencar as tentações de Jesus.
Tentação — A batalha por nossas escolhas e atitudes
Esequias Soares
Daniele Soares
Daniele Soares
LIVRO BATALHA ESPIRITUAL
E importante que todos
os crentes em Jesus saibam que Deus permite, às vezes, que sejamos tentados
para que o seu nome seja glorificado e Satanás derrotado. Não é pecado ser
tentado; até o nosso Senhor Jesus Cristo foi tentado (Hb 4.15). É pecado, sim,
ceder à tentação. Por mais contraditório que pareça, a tentação é para o nosso
próprio bem: "Bem-aventurado o varão que sofre a tentação; porque, quando
for provado, receberá a coroa da vida, a qual o Senhor tem prometido aos que o
amam" (Tg 1.12). Dessa forma, é preciso estarmos preparados para
reconhecermos as situações em que somos tentados e resistirmos.
A tentação de Jesus no
limiar de seu ministério terreno era o prenuncio da completa derrota final de
Satanás e serve-nos de lição sobre como lidar com casos de tentação no dia a
dia. A voz que veio do céu por ocasião do batismo de Jesus no rio Jordão,
"Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo" (Mt 3.17), parece ter
deixado Satanás assustado, visto que se tratava daquele que veio para amarrar
"o valente" e saquear "a sua casa" (Mt 12.29). Deus
expulsou Satanás do céu, mas Jesus veio para expulsá-lo da terra fio 12.31).
TENTAÇÃO
O termo hebraico massá,
"tentação, provação", é um substantivo feminino e ao mesmo tempo
o nome do lugar onde houve a rebelião dos israelitas contra Moisés e contra
Deus: "E chamou o nome daquele lugar Massá e Meribá, por causa da contenda
dos filhos de Israel, e porque tentaram ao SENHOR, dizendo: Está o SENHOR no
meio de nós, ou não?" (Êx 17.7); "Também em Tabe- rá, e em Massá, e
em Quibrote-Hataavá provocastes muito a ira do SENHOR" (Dt 9.22); "E
de Levi disse: Teu Tumim e teu Urim são para o teu amado, que tu provaste, em
Massá, com quem contendeste nas águas de Meribá" (Dt 33.8). Apesar de ser
um substantivo, aparece com certa frequência em nossas versões como verbo:
"ou se já houve algum deus que tentou tomar para si um povo" (Dt
4.34, NAA); "Não tentareis o SENHOR, vosso Deus, como o tentastes em
Massá" (Dt 6.16). Nas demais passagens, massa é traduzido como
substantivo: "das grandes provas que viram os teus olhos, e dos sinais, e
maravilhas, e mão forte, e braço estendido, com que o SENHOR, teu Deus, te tirou;
assim fará o SENHOR, teu Deus, com todos os povos, diante dos quais tu
temes" (Dt 7.19); "as grandes provas que os teus olhos têm visto,
aqueles sinais e grandes maravilhas" (Dt 29.3); "Matando o açoite de repente,
então, se ri da prova dos inocentes" (Jó 9.23). A Septuaginta traduziu
massá porpeirasmós, "tentação", a mesma palavra usada com frequência
no Novo Testamento como em: "E não nos induzas à tentação" (Mt 6.13).
O nissá, de nassá,
"testar, provar, tentar", que às vezes vem junto com massá, tem o
sentido de teste como na passagem do sacrifício de Isaque: "E aconteceu,
depois destas coisas, que tentou Deus a Abraão" (Gn 22.1); "Depois
dessas coisas, pôs Deus Abraão à prova" (ARA, NAA); "Depois disto experimentou
Deus a Abraão" (TB); e na visita da rainha de Sabá a Salomão (1 Rs 10.1).
Esse teste tem por finalidade revelar ou desenvolver o nosso caráter (Êx 20.20;
Jo 6.6). Muitas vezes, o sentido desse verbo é de experimento, até mesmo no
campo científico. A Septuaginta traduziu nissá pelo verbo grego peirázo,
"testar, experimentar, tentar, pôr à prova", usado também no Novo
Testamento (At 16.7; 24.6; Ap 2.2); e por ekpeirázo, "provar, por à prova,
testar, tentar", quatro vezes:
"Não tentareis o
SENHOR, vosso Deus, como o tentastes em Massá" (Dt 6.16);
"E te lembrarás de
todo o caminho pelo qual o SENHOR, teu Deus, te guiou no deserto estes quarenta
anos, para te humilhar, para te tentar, para saber o que estava no teu coração,
se guardarias os seus mandamentos ou não... que no deserto te sustentou com
maná, que teus pais não conheceram; para te humilhar, e para te provar, e para,
no teu fim, te fazer bem" (Dt 8.2, 16);
"E tentaram a Deus
no seu coração, pedindo carne para satisfazerem o seu apetite" (Sl 78.18
[77.18 LXX]).
Esse mesmo verbo
ekpeirázo aparece também quatro vezes no Novo Testamento, na resposta de Jesus
a Satanás: "Não tentarás o Senhor, teu Deus" (Mt 4.7; Lc 4.12), uma
citação em Deuteronômio 6.16; a terceira vez com o sentido de teste, por à
prova (Lc 10.25), e a última vez quando o apóstolo Paulo chama a atenção dos
crentes para não tentar a Cristo, citando a passagem de Refidim, de "Massá
e Meribá" (Êx 17.1-7; l Co 10.9).
A TENTAÇÃO DE JESUS
Como Jesus, sendo Deus
em toda a sua plenitude, da mesma substância do Pai e membro da Trindade
juntamente com o Espírito Santo, pôde ser tentado? "Porque Deus não pode
ser tentado pelo mal e a ninguém tenta" (Tg 1.13). Sim, é possível; veja o
por quê. A Bíblia ensina que Deus é perfeito; sendo, pois, o Filho Deus igual
ao Pai e da mesma natureza, Jesus não precisava aumentar ou diminuir seus
conhecimentos. Nada teria para aprender e não havería como melhorar ou piorar
seu comportamento. Porém, a Palavra de Deus revela que o Senhor Jesus Cristo é
o verdadeiro Deus e o verdadeiro homem (Jo 1.1, 14; Rm 1.3, 4; 9.5). As
Escrituras Sagradas apresentam diversas características humanas em Jesus; por
exemplo, o relato sagrado de sua infância enfoca o seu desenvolvimento físico,
intelectual e espiritual: "E crescia Jesus em sabedoria, e em estatura, e
em graça para com Deus e os homens... E o menino crescia e se fortalecia em
espírito, cheio de sabedoria; e a graça de Deus estava sobre ele” (Lc 2.40,
52). O profeta Isaías anunciou de antemão que Emanuel "manteiga e mel
comerá, até que ele saiba rejeitar o mal e escolher o bem" (Is 7.15). A
infância de Jesus é uma amostra clara da natureza humana de Cristo.
"Porque há um só
Deus, e um só mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem" (l Tm
2.5). Jesus Cristo é o eterno e verdadeiro Deus e ao mesmo tempo o verdadeiro
homem. Tomou-se homem para suprir a necessidade da humanidade. O termo "Emanuel",
que o próprio escritor sagrado traduziu por "DEUS CONOSCO" (Mt 1.23)
mostra que Deus assumiu a forma humana e veio habitar entre os homens: "E
o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória
do Uni- gênito do Pai, cheio de graça e de verdade" (Jo 1.14). O ensino da
humanidade de Cristo, no entanto, não neutraliza a sua divindade, pois ele
possui duas naturezas: a humana e a divina, o que está claramente expresso no
seu nome EMANUEL.
Jesus foi revestido do
corpo humano porque o pecado entrou no mundo por um homem, e pela justiça de
Deus tinha de ser vencido por um ser humano. A Bíblia ensina que o pecado
entrou no mundo por Adão (Rm5.12,18,19). Jesus se fez carne, tomou- -se homem
sujeito ao pecado, embora nunca houvesse pecado, e venceu o pecado como homem
(Rm 8.3). A Bíblia mostra que todo o gênero humano está condenado; que o homem
está perdido e debaixo da maldição do pecado (SI 14.2-3; Rm 3.23). Todos são
devedores, por isso ninguém pode pagar a dívida do outro. A Bíblia afirma que
somente Deus pode salvar (Is 43.11). Então, esse mesmo Deus tomou-se homem,
trazendo-nos o perdão de nossos pecados e cumprindo ele mesmo a lei que Moisés
promulgou no Sinai (At 4.12; 1 Tm 3.16; Cl 2.14). Quando Jesus estava na terra,
ele não se apegou às prerrogativas da divindade para vencer o diabo, mas
aniquilou a si mesmo, fazendo-se semelhante aos homens (Fp 2.5-8). Como homem,
tinha certa limitação quanto ao tempo e ao espaço e, portanto, era submisso ao
Pai. Eis a razão de ele ter dito em João 14.28: "O Pai é maior do que
eu".
Os evangelhos revelam
atributos característicos do ser humano em Jesus, como por exemplo:
• Nasceu de uma mulher,
embora tivesse sido gerado pela ação sobrenatural do Espírito Santo. Seu
nascimento, contudo, foi normal e comum, como o de qualquer ser humano (Lc
2.6-7).
• Cresceu em estatura e
em sabedoria (Lc 2.52).
• Sentiu sono, fome,
sede e cansaço (Mt 8.24; Jo 4.6; 19.28).
• Sofreu, chorou e
sentiu angústia (Hb 13.12; Lc 19.41; Mt 26.37).
• Teve mãe humana, além
de irmãos e irmãs (Mt 12.47; 13.55-56).
• Morreu, embora tenha
ressuscitado ao terceiro dia, passando pelo ardor da morte (1 Co 15.3-4).
• Deu provas materiais
de ter corpo humano (1 Jo 1.1; Lc 24.39-41).
• Foi feito semelhante
aos homens, mas sem pecado (Hb 2.17; 4.15).
Assim como é pecado
negar a humanidade de Cristo (1 Jo 4.2-3; 2 Jo 7), é pecado também negar a sua
divindade, pois Jesus é tanto humano como divino. Como homem, sentiu as dores
do ser humano; e, como Deus, supriu a necessidade da humanidade. Foi nessa
condição humana que Jesus foi tentado por Satanás no deserto logo no início do
seu ministério terreno como registrado nos evangelhos sinóticos (Mt 4.1-11; Mc
1.12, 13; Lc 4.1-13). No entanto, a tentação de Jesus não se restringiu apenas
aos 40 dias do deserto, mas permaneceu durante toda a sua carreira ministerial
(Lc 22.28; Hb 4.15). Essa tentação é o primeiro acontecimento registrado de sua
história depois do batismo por João Batista no rio Jordão.
A PEREGRINAÇÃO DE ISRAEL NO DESERTO EA TENTAÇÃO DE JESUS
Há certo paralelismo
entre esses dois acontecimentos: quarenta anos de peregrinação, quarenta dias
de tentação; quarenta dias e quarenta noites de jejum, Moisés e Jesus; quarenta
anos Israel foi tentado no deserto, Jesus foi tentado durante quarenta dias no
deserto. Deus guiou o seu povo no deserto para colocá- -lo à prova (Dt 8.2), e
o Senhor Jesus "foi levado pelo Espírito ao deserto" (Lc 4.1);
"Então, foi conduzido Jesus pelo Espírito ao deserto, para ser tentado
pelo diabo" (Mt 4.1).
O deserto é uma das
características mais emblemáticas da Terra Santa; é um lugar de perigo com
risco de ataques de nômades piratas ou ladrões, serpentes e escorpiões, falta
de água, comida, com chances de perder-se e ficar desorientado, entre outros.
No entanto, é no deserto que os seres humanos percebem a grandeza de Deus e a
fragilidade humana; é um lugar de profundo silêncio para meditação e oração,
onde há vastidão de espaço para ouvir a voz de Deus. Burge, especialista em
Oriente Médio, na sua obra A Bíblia e a terra, descreve: "O deserto é um
símbolo teológico para luta e privação. Para sofrimento e perda.
Vulnerabilidade e desamparo. Deslocamento e confusão. Mas também é o local
espiritual onde o renovo acontece e o homem, em meio à crise, descobre algo
sobre Deus, que antes não conhecia" (p. 46) - o grifo não é nosso. Diante
do conhecimento geográfico, então, entendemos que grandes homens de Deus no
Antigo e no Novo Testamento, como Moisés (At 7.30-33), Elias (l Rs 19.4-10) e
João Batista (Lc 1.80; 3.2), foram transformados e preparados para o serviço
sagrado no deserto.
Os evangelhos não nos
informam o local exato em que Jesus suportou os quarenta dias de jejum e
tentações. Mas há concordância entre muitos estudiosos de que se trata de uma
parte despovoada da Judeia, onde João Batista iniciou o seu ministério. A
tradição posterior indica o monte da Quarentena a oeste de Jerico, onde foi
construída na encosta da montanha uma igreja no século 6.
Segundo a narrativa de
Mateus, Jesus jejuou "quarenta dias e quarenta noites, depois teve
fome". Moisés também jejuou quarenta dias e quarenta noites quando recebeu
as tábuas da lei no monte Sinai: "E esteve Moisés ali com o SENHOR
quarenta dias e quarenta noites; não comeu pão, nem bebeu água, e escreveu nas
tábuas as palavras do concerto, os dez mandamentos" (Êx 34.28). Moisés
reiterou essa experiência posteriormente (Dt 9.9). Há algo similar na tentação
de Jesus. Talvez a intenção do Espírito Santo seja apresentar Jesus como um
novo Moisés, o novo legislador, pois o próprio Senhor Jesus se apresentou com
tal autoridade no pronunciamento do Sermão do Monte com a expressão
"ouvistes que foi dito aos antigos", ou fraseologia similar, "eu
porém vos digo" (Mt 5.21,22,27,28, 31-34, 38, 39, 43, 44). Depois de
Moisés, somente o profeta Elias e o Senhor Jesus tiveram experiência semelhante
de um jejum quarenta dias (1 Rs 19.8; Mt 4.2). São três situações específicas
que não devem ser tomadas como doutrina da Igreja. Nem mesmo Saulo de Tarso
praticou um jejum de quarenta dias no início de sua caminhada com Cristo; ele
jejuou apenas três dias e três noites: "E esteve três dias sem ver, e não
comeu, nem bebeu" (At 9.9).
Elias, o segundo
Moisés, esteve quarenta dias sem comer (l Rs 19.8), e da mesma maneira o Senhor
Jesus, o Moisés Maior, esteve quarenta dias e quarenta noites sem comer (Mt
4.2). Lucas afirma que Jesus, "naqueles dias, não comeu coisa alguma, e,
terminados eles, teve fome" (Lc 4.2). O verbo grego, nesteuou,
"jejuar", significa literalmente "abster-se de alimento"
Nenhum desses evangelistas fala sobre sede ou água. Parece que Jesus se absteve
totalmente quarenta dias e quarenta noites de alimento, e não de água (Lc 4.2).
Apesar de o jejum ser
uma prática salutar na vida cristã até os dias atuais, ninguém deve exagerar e
querer imitar a Moisés em um jejum desse tipo, durante quarenta dias e quarenta
noites. Isso aconteceu só duas vezes com Moisés e ninguém mais; foi algo
inédito. Portanto, não deve ser estabelecido como doutrina (Êx 34.28;
Dt9.9,18). Esse esclarecimento é importante porque sempre aparecem os
exibicionistas dizendo jejuar ou estar jejuando quarentas dias. Na verdade,
jejum é abster-se de alimento; essa gente se abstém de sólido, mas se alimenta
de milk-shake, vitamina, e chama isso de jejum, que na verdade não passa de uma
dieta. O jejum absoluto é abstenção de alimento, seja ele sólido, líquido ou
cremoso; o jejum parcial é aquele em que o crente se abstém só de alimento,
ingerindo água, aos poucos, e somente água, água pura, sem chá, sem suco, sem
vitamina, sem milk-shake.
A TRÍPLICE TENTAÇÃO
Nada há no relato da
tentação de Jesus no deserto que possa sustentar uma interpretação subjetiva,
simbólica ou visionária. A maioria dos expositores bíblicos reconhece os
relatos como descrição de fatos externos reais, o diálogo como pessoal:
"Alguns estudiosos comparam o debate intelectual entre Jesus e o diabo à
forma dos debates rabínicos" (KEENER, 2017, p. 53, 54). As possíveis
dificuldades do texto sagrado estão em como "o diabo o transportou à
Cidade Santa, e colocou-o sobre o pináculo do templo" (Mt 4.5); e em como
o diabo teria transportado Jesus a um monte muito alto e "e mostrou-lhe
todos os reinos do mundo e a glória deles" (Mt 4.8). Não se sabe como
esses deslocamentos ou movimentações ocorreram, nem detalhes de como Satanás se
apresentou a Jesus, mas se sabe que ele se apresenta de diversas maneiras, em
forma de serpente, como aconteceu no Éden (Gn 3.1-5; Ap 12.9), ou até mesmo
como um anjo de luz (2 Co 11.14). De qualquer modo, a formulação: "Então,
o tentador, aproximando-se" (Mt 4.3, ARA) é um estilo que expressa
nitidamente que o diabo se aproximou de Jesus como personagem físico. Além
disso, a teologia rabínica ensinava que os espíritos, ao se mostrarem às
pessoas, faziam-no em figura humana. A linguagem: "Então o diabo o
transportou à Cidade Santa" parece confirmar esse pensamento rabínico.
Mateus e Lucas
registraram as três últimas investidas de Satanás contra Jesus, e elas foram o
ápice dessas tentações. Na verdade, Jesus foi tentado em todos os quarenta
dias: "Imediatamente o Espírito o impeliu para o deserto. Ali ficou
quarenta dias tentado por Satanás" (Mc 1.12, 13, TB); "quarenta dias
foi tentado pelo diabo" (Lc 4.2). E continuou sendo tentado durante todo o
tempo de seu ministério (Lc 22.28; Hb 4.15).
O relato de Mateus
apresenta as três tentações na ordem cronológica, como de fato aconteceu,
segundo a opinião da maioria dos expositores bíblicos, diferentemente de Lucas,
que inverte a ordem entre a segunda e a terceira tentações, isso em relação a
Mateus. A tentação no pináculo do templo é posterior à do "monte muito
alto" em Lucas (Lc 4.5, 9). O pináculo era o lugar mais alto do complexo
do segundo templo. O termo grego é pterygion, que significa "pequena
asa" e designa a ponta ou extremidade de alguma coisa, que a Vulgata
Latina traduziu por pinnaculum. Estudos em Josefo e na Mishná indicam a
extremidade sudeste da área do templo com vista para o vale de Cedrom.
A sequência do relato
de Mateus é a seguinte: l) "Se tu és o Filho de Deus, manda que estas
pedras se tornem em pães" (Mt 4.3); 2) "o diabo o transportou à
Cidade Santa, e colocou-o sobre o pináculo do templo, e disse-lhe: Se tu és o
Filho de Deus, lança-te daqui abaixo [...]" (Mt 4.5, 6); 3)
"Novamente, o transportou o diabo a um monte muito alto; e mostrou-lhe
todos os reinos do mundo e a glória deles" (Mt 4.8).
O inimigo de nossa alma
é identificado na presente narrativa da tentação no deserto por três nomes: o
diabo, o tentador e Satanás (Mt 4.1, 3, 10). A primeira tentação tinha como um
dos objetivos levar Jesus a se desviar do programa divino. O Filho aceitou a
condição humana de completa obediência ao Pai, por isso cabia a Jesus cumprir o
dever de confiar em Deus para o seu sustento. Como ser humano, o Senhor
precisava confiar na providência divina; do contrário, seria diferente dos
humanos. O poder de Jesus para operar milagres não era para benefício próprio;
era para servir aos outros, não a si mesmo. Ele nunca fez uso pessoal de seus
poderes: "Salvou os outros e a si mesmo não pode salvar-se" (Mt
27.42); "Salvou os outros e não pode salvar- -se a si mesmo" (Mc
15.31). De modo que transformar pedras em pães significava ser Jesus a sua
própria providência e subverter a ordem natural do programa divino. Uma vez que
nós, seres humanos, precisamos confiar na providência divina, nesse caso o
Senhor se tornaria diferente dos humanos.
Satanás sabia que Jesus
era o Filho de Deus; sem dúvida alguma ele ouviu com a multidão o testemunho do
Pai: "E eis que uma voz dos céus dizia: Este é o meu Filho amado, em quem
me comprazo" (Mt 3.17). Mas, nesse caso, Satanás se aproveita da fragilidade
física proveniente da fome para desafiar Jesus a provar a sua filiação divina
operando um majestoso milagre de transformar pedras em pães. O Senhor Jesus não
precisava provar nada para o diabo, mas o derrotou pelo poder da Palavra de
Deus, ao responder: "Está escrito: Nem só de pão viverá o homem, mas de
toda a palavra que sai da boca de Deus" (Mt 4.4). Essas palavras são
tiradas do Antigo Testamento, de uma tentação de Israel no deserto: "E te
humilhou, e te deixou ter fome, e te sustentou com o maná, que tu não
conheceste, nem teus pais o conheceram, para te dar a entender que o homem não
viverá só de pão, mas que de tudo o que sai da boca do SENHOR viverá o
homem" (Dt 8.3). A resposta de Jesus deixou o diabo completamente
desarticulado nos seus argumentos. Tendo sido vencido, Satanás tenta um segundo
round.
Na segunda tentação, o
diabo ainda se apega à questão da filiação divina e, visto ter sido derrotado
pelo poder da Palavra de Deus, ele agora citada de maneira truncada as
Escrituras: "Então o diabo o transportou à Cidade Santa, e colocou-o sobre
o pináculo do templo, e disse-lhe: Se tu és o Filho de Deus, lança-te daqui
abaixo; porque está escrito: Aos seus anjos dará ordens a teu respeito, e
tomar-te-ão nas mãos, para que nunca tropeces em alguma pedra" (Mt 4.5,6).
O diabo cita Salmos 91.11,12, mas o faz fora do contexto. A proposta
apresentada por ele é substituir a fé pela presunção. O diabo tentou persuadir
Jesus a cometer um ato de vaidade como demonstração pública de que era enviado
por Deus. Mas a resposta de Jesus mostra que o diabo está tentando Jesus a
fazer exatamente o que os israelitas fizeram em Massá, quando se rebelaram
contra Moisés e contra Deus (Êx 17.7). É emblemático que o Senhor Jesus tenha
respondido usando as palavras do próprio contexto da rebelião do deserto:
"Não tentareis o SENHOR, vosso Deus, como o tentastes em Massá" (Dt
6.16); "Disse-lhe Jesus: Também está escrito: Não tentarás o Senhor, teu
Deus" (Mt 4.7).
A terceira e última
dessas três investidas satânicas é descrita em Lucas com algumas informações
adicionais e algumas omissões em relação ao relato de Mateus: "E o diabo,
levando-o a um alto monte, mostrou-lhe, num momento de tempo, todos os reinos
do mundo. E disse-lhe o diabo: Dar-te-ei a ti todo este poder e a sua glória,
porque a mim me foi entregue, e dou-o a quem quero. Portanto, se tu me
adorares, tudo será teu" (Lc 4.5-7). Em Lucas essa é a segunda tentação;
diferentemente de Mateus, Lucas não segue a ordem cronológica. Lucas diz que o
diabo mostrou a Jesus todos os reinos do mundo "num momento de
tempo", expressão que parece apoiar a ideia de uma "visão". Não
se sabe como isso aconteceu; o certo é que do alto da montanha podia ver os
antigos territórios ocupados pelo Egito, Assíria, Babilônia, Pérsia, Grécia e Roma.
O diabo diz a Jesus que a autoridade sobre os reinos do mundo lhe foi entregue,
bem como o poder de dá- -los a quem quiser. Portanto, ele ofereceu tudo isso a
Jesus pelo preço de uma só adoração.
Teria Satanás o
controle do mundo a ponto de oferecê-lo a quem desejasse? Sabe-se que ele é o
"pai da mentira" (Jo 8.44). A fé cristã repousa sobre a convicção de
que a autoridade sobre o mundo pertence, em última análise, a Deus. Mas ele
pode permitir que outro a exerça de forma passageira e limitada, e é dessa
forma que Satanás aparece como "o príncipe deste mundo" (Jo 12.31); "o
deus deste século" (2 Co 4.4); "o príncipe das potestades do ar"
(Ef 2.2); "os príncipes das trevas deste século, [...] as hostes
espirituais da maldade, nos lugares celestiais" (Ef 6.12). Tudo isso que o
diabo oferece a Jesus em troca de uma adoração, Deus, o Pai, já havia oferecido
ao Filho definitivamente e para sempre (Sl 2.8). Mais uma vez, Jesus derrota
Satanás pelo poder da Palavra de Deus: "Vai-te, Satanás, porque está escrito:
Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a ele servirás" (Mt 4.10), uma citação
da lei de Moisés (Dt 6.13). O diabo usou todos os seus recursos para desviar o
Senhor Jesus de sua missão. Adão fracassou no Éden, Israel fracassou no
deserto, mas Jesus venceu!
VENCENDO AS TENTAÇÕES
Quando for o momento da
batalha espiritual, em que percebemos algo atacando o trabalhar de Deus na
nossa vida, lembrar o episódio da tentação de Jesus no deserto é encorajador. A
história demonstra que Jesus entende o que nós passamos quando somos tentados
porque ele enfrentou as mesmas tentações para pecar que vivenciamos todos os
dias. O Senhor Jesus resistiu à tentação, e por isso podemos contar com sua
ajuda para agirmos da mesma forma, "porque, naquilo que ele mesmo, sendo
tentado, padeceu, pode socorrer aos que são tentados" (Hb 2.18). As
perguntas que Satanás faz a Jesus envolvem devoção a Deus. Isso nos leva a
analisar qual nosso comprometimento com o Senhor e qual o fundamento da nossa
fé, se é a comida física ou a Palavra de Deus. É o indicativo de estarmos ou
não preparados para enfrentar os ataques malignos.
É possível preparar-nos
para lidar com as tentações do dia a dia, estabelecendo algumas maneiras de
responder quando o pecado se apresentar. O texto de Provérbios 4.14, 15 nos
alerta para não seguirmos o caminho dos maus, não os tomarmos como exemplo de
vida e nos desviarmos da comunhão com ele. O apóstolo Paulo recomenda em suas
cartas que os irmãos e as irmãs fujam da tentação (l Co 6.18; 10.14; l Tm
6.9-11), e Tiago aconselha que se resista ao diabo (Tg 4.7). Além disso, como
servos de Cristo, somos instrumentos para ajudar as outras pessoas a vencerem a
tentação. Nosso papel é encorajá-las na sua jornada com Cristo e não as induzir
ao caminho mau.
Videoaula - pastor Esequias Soares
0 comentários:
Postar um comentário