BIBLIOLOGIA:
DOUTRINA DA BÍBLIA
I.
REVELAÇÃO:
É a operação divina que
comunica ao homem fatos que a razão humana é insuficiente para conhecer. É
portanto, a operação divina que comunica a verdade de Deus ao homem (ICo.2:10).
A) Provas
da Revelação:
O diabo foi o primeiro
ser a pôr em dúvida a existência da revelação: "É assim que Deus
disse?" (Gn.3:1). Mas a Bíblia é a Palavra de Deus. Vejamos alguns
argumentos:
1) A Indestrutibilidade da Bíblia:
Uma porcentagem muito
pequena de livros sobrevive além de um quarto de século, e uma porcentagem
ainda menor dura um século, e uma porção quase insignificante dura mil anos. A
Bíblia, porém, tem sobrevivido em circunstâncias adversas. Em 303 A.D. o
imperador Dioclécio decretou que todos os exemplares da Bíblia fossem
queimados. A Bíblia é hoje encontrada em mais de mil línguas e ainda é o livro
mais lido do mundo.
2) A
Natureza da Bíblia:
a) Ela é
superior:
Ela é superior a qualquer outro livro do mundo. O
mundo, com sua sabedoria e vasto acúmulo de conhecimento nunca foi capaz de
produzir um livro que chegue perto de se comparar a Bíblia.
b) É um
livro honesto:
Pois revela fatos sobre
a corrupção humana, fatos que a natureza humana teria interesse em acobertar.
c) É um
livro harmonioso:
Pois embora tenha sido
escrito por uns quarenta autores diferentes, por um período de 1.600 anos, ela
revela ser um livro único que expressa um só sistema doutrinário e um só padrão
moral, coerentes e sem contradições.
3) A
Influência da Bíblia:
O Alcorão, o Livro dos
Mórmons, o Zenda Avesta, os Clássicos de Confúncio, todos tiveram influência no
mundo. Estes, porém, conduziram a uma idéia apagada de Deus e do pecado, ao ponto de ignorá-los. A Bíblia,
porém, tem produzido altos resultados em todas as esferas da vida: na arte, na
arquitetura, na literatura, na música, na política, na ciência etc.
4)
Argumento da Analogia:
Os animais inferiores
expressam com suas vozes seus diferentes sentimentos. Entre os racionais existe
uma presença correspondente, existe comunicação direta de um para o outro, uma
revelação de pensamentos e sentimentos. Consequentemente é de se esperar que
exista, por analogia da natureza, uma revelação direta de Deus para com o
homem. Sendo o homem criado à Sua imagem, é natural supor que o Criador
sustente relação pessoal com Suas criaturas racionais.
5)
Argumento da Experiência:
O homen é incapaz por
sua própria força descobrir que:
a)
Precisa
ser salvo.
b) Pode ser salvo.
c) Como pode ser salvo.
d) Se há salvação.
Somente a revelação pode desvendar estes
mistérios eternos. A experiência do homem tem demonstrado que a tendência da
natureza humana é degenerar-se e seu caminho ascendente se sustêm unicamente
quando é voltado para cima em comunicação direta com a revelação de Deus.
6)
Argumento da Profecia Cumprida:
Muitas profecias a
respeito de Cristo se cumpriram integralmente, sendo que a mais próxima do
primeiro advento, foi pronunciada 165 anos antes de seu cumprimento. As
profecias a respeito da dispersão de Israel também, se cumpriram (Dt.28;
Jr.15:4;l6:13; Os.3:4 etc); da conquista de Samaria e preservação de Judá (Is.7:6-8;
Os.1:6,7; IRs.14:15); do cativeiro babilônico sobre Judá e Jerusalém (Is.39:6;
Jr.25:9-12); sobre a destruição final de Samaria (Mq.1:6-9); sobre a
restauração de Jerusalém (Jr.29:10-14), etc.
7)
Reivindicações da Própria Escritura:
A própria Bíblia
expressa sua infalibilidade, reivindicando autoridade. Nenhum outro livro ousa
fazê-lo. Encontramos essa reivindicação nas seguintes expressões: "Disse o
Senhor a Moisés" (Ex.14:1,15,26;16:4;25:1; Lv.1:1;4:1;11:1; Nm.4:1;13:1;
Dt.32:48) "O Senhor é quem fala" (Is.1:2); "Disse o Senhor a
Isaías" (Is.7:3); "Assim diz o Senhor" (Is.43:1). Outras
expressões semelhantes são encontradas: "Palavra que veio a Jeremias da
parte do Senhor" (Jr.11:1); "Veio expressamente a Palavra do Senhor a
Ezequiel" (Ez.1:3); "Palavra do Senhor que foi dirigida a
Oséias" (Os.1:1); "Palavra do Senhor que foi dirigida a Joel"
(Jl.1:1), etc. Expressões como estas são encontradas mais de 3.800 vezes no
Velho Testamento. Portanto o A.T. afirma ser a revelação de Deus, e essa mesma
reivindicação faz o Novo Testamento (ICo.14:37; ITs.2:13; IJo.5:10; IIPe.3:2).
B)
Natureza da Revelação: Deus se revelou de sete modos:
1)
Através da Natureza: (Sl.19:1-6;
Rm.l:19-23).
2)
Através da Providência: A providência é a execução do programa de Deus das
dispensações em todos os seus detalhes (Gn.48:15;50:20; Rm.8:28; Sm.57:2;
Jr.30:11; Is.54:17).
3)
Através da Preservação: (Cl.1:17; Hb.1:3; At.17:25,28).
4)
Através de Milagres:
(Ex.4:1-9).
5)
Através da Comunicação Direta: (Nm.12:8; Dt.34:10).
6) Através
da Encarnação: (Hb.1:1;
Jo.8:26;15:15).
7)
Através das Escrituras: A Bíblia é a revelação escrita de Deus e, como tal, abrange
importantes aspectos:
a) Ela é variada: Variada
em seus temas, pois abrange aquilo que é doutrinário, devocional, histórico,
profético e prático.
b) Ela é parcial:
(Dt.29:29).
c) Ela é completa: Naquilo
que já foi revelado (Cl.2:9,10);
d) Ela é progressiva:
(Mc.4:28).
e) Ela é definitiva:
(Jd.3).
II.
INSPIRAÇÃO:
É a operação divina que
influenciou os escritores bíblicos, capacitando-os a receber a mensagem divina,
e que os moveu a transcrevê-la com exatidão, impedindo-os de cometerem erros e
omissões, de modo que ela recebeu autoridade divina e infalível, garantindo a
exata transferência da verdade revelada de Deus para a linguagem humana
inteligível (ICo.10:13; IITm.3:16; IIPe.1:20,21).
A)
Autoria Dual:
Com este termo indicamos dois fatos:
1)
Autoria Divina: Do
lado divino as Escrituras são a Palavra de Deus no sentido de que se originaram
nEle e são a expressão de Sua mente. Em IITm.3:16 encontramos a referência a
Deus: "Toda Escritura é divinamente inspirada"
(theopneustos = soprada ou expirada por
Deus). A referência aqui é ao escrito.
2)
Autoria Humana: Do
lado humano certos homens foram escolhidos por Deus para a responsabilidade de
receber a Palavra e passá-la para a forma escrita. Em IIPe.1:21 encontramos a
referência aos homens: "Homens santos de Deus falaram movidos pelo Espírito Santo" (pherô = movidos ou conduzidos). A referência aqui é ao escritor.
B)
Inspiração ou Expiração? A palavra inspiração
vem do latim, e significa respirar
para dentro. Ela é usada pela ARC. (Almeida Revista e Corrigida) somente
duas vezes no N.T. (IITm.3:16; IIPe.1:21). Este vocábulo, embora consagrado
pelo uso, e, portanto, pela teologia, não é um termo adequado, pois pode
parecer que Deus tenha soprado alguma espécie de vida divina em palavras
humanas. Em IITm.3:16 encontramos o vocábulo grego theopneustos que significa soprado
por Deus. Portanto podemos afirmar que toda a Escritura é soprada ou expirada por Deus, e não inspirada
como expressa a ARC. As Escrituras são o próprio sopro de Deus, é o próprio
Deus falando (IISm.23:2). Em IIPe.1:21 este vocábulo se torna mais inadequado
ainda, pois a tradução da ARC. Transmite a idéia de que os homens santos foram
inspirados pelo Espírito Santo. O fato é que o homem não é
inspirado, mas a Palavra de Deus é que é expirada (Compare
Jó.32:8; 33:4; com Ez.36:27; 37:9). A ARA. (Almeida Revista e Atualizada),
porém, apesar de utilizar o termo inspiração em IITm.3:16, usa, com acerto, o
verbo mover em IIPe.1:21, como
tradução do vocábulo grego pherô, que
significa exatamente mover ou conduzir.
Considerada esta ressalva, não devemos pender
para o extremo, excluindo a autoria humana da compilação das Escrituras. Ela
própria reconhece a autoria dual no registro bíblico. Em Mt.15:4 está escrito
que Deus ordenou enquanto que em
Mc.7:10 diz que foi Moisés quem ordenou.
E muitas outras passagens há semelhantes a esta (Compare Sl.110:1 com Mc.12:36;
Ex.3:6,15 com Mt.22:31; Lc.20:37 com Mc.12:26; Is.6:9,10; At.28:25 com
Jo.12:39-41; Mt.1:22;2:15; At.l:16;4:25; Hb.3:7-11; Hb.9:8;10:15) Deus opera de
modo misterioso usando e não anulando a vontade humana, sem que o
homem perceba que está sendo divinamente
conduzido, sendo que neste fenômeno, o homem faz pleno uso de sua liberdade
(Pv.16:1;19:21; Sl.33:15;105:25; Ap.17:17). Desse mesmo modo Deus também usa
Satanás (Compare ICr.21:1 com IISm.24:1; IRs.22:20-23), mas não retira a
responsabilidade do homem (At.5:3,4), como também o faz na obra da salvação
(Dt.30:19; Sl.65:4; Jo.6:44).
C) O
Termo Logos: Este
termo grego foi utilizado no N.T. cerca de 200 vezes para indicar a Palavra de Deus Escrita, e 7 vezes para
indicar o Filho de Deus (Jo.1:1,14;
IJo.1:1;5:7; Ap.19:13). Eles são para Deus o que a expressão é para o
pensamento e o que a fala é para a razão, portanto o Logos de Deus é a expressão de Deus, quer seja na forma escrita ou
viva (Compare Jo.14:6 com Jo.17:17).
1) Cristo
é a Palavra Viva: Cristo
é o Logos, isto é, a fala, a
expressão de Deus.
2) A
Bíblia é a Palavra Escrita: A Bíblia também é o Logos de Deus, e assim como em Cristo há dois elementos (duas
naturezas), divino e humano, igualmente na Palavra de Deus estes dois elementos
aparecem unidos sobrenaturalmente.
D) Provas
da Inspiração: Somos
acusados de provar a inspiração pela Bíblia e de provar a verdade da Bíblia
pela inspiração, e, assim, de argumentar num círculo vicioso. Mas o processo
parte de uma prova que todos aceitam: a evidência. Esta, primeiro prova a
veracidade ou credibilidade da testemunha, e então aceita o seu testemunho. A
veracidade das Escrituras é estabelecida de vários modos, e, tendo constatado a
sua veracidade, ou a validade do seu testemunho, bem podemos aceitar o que elas
dizem de si mesmas. As Escrituras afirmam que são inspiradas, e elas ou devem
ser cridas neste particular ou rejeitadas em tudo mais.
1) O A.T.
afirma sua Inspiração: (Dt.4:2,5; IISm.23:2; Is.1:10; Jr.1:2,9; Ez.3:1,4; Os.1:1;
Jl.l:1; Am.1:3;3:1; Ob.1:1; Mq.1:1).
2) O N.T.
afirma sua Inspiração: (Mt.10:19; Jo.14:26;15:26,27; Jo.16:13; At.2:33;15:28;
ITs.1:5; ICo.2:13; IICo.13:3; IIPe.3:16; ITs.2:13; ICo.14:37).
3) O N.T.
afirma a Inspiração do A.T.: (Lc.1:70; At.4:25; Hb.1:1, IItm.3:16; IPe.1:11;
IIPe.1:21).
4) A
Bíblia faz declarações científicas descobertas posteriormente: (Jó.26:7; Sl.135:7;
Ec.1:7; Is.40:22).
E)
Teorias da Inspiração: Podemos ter revelação sem inspiração (Ap.10:3,4), e podemos
ter inspiração sem revelação, como quando os escritores registram o que viram
com seus próprios olhos e descobriram pela pesquisa (IJo.1:1-4; Lc.1:1-4). Aqui
nós temos a forma e o resultado da inspiração. A forma é o método que Deus empregou na inspiração,
enquanto que o resultado indica a conseqüência
da inspiração. Portanto, as chamadas teorias da intuição, da iluminação, a
dinâmica e a do ditado, todas descrevem a forma de inspiração, enquanto que a
teoria verbal plenária indica o resultado.
1) Teoria
da Inspiração Dinâmica: Afirma que Deus forneceu a capacidade necessária para a
confiável transmissão da verdade que os escritores das Escrituras receberam
ordem de comunicar. Isto os tornou infalíveis em questões de fé e prática, mas
não nas coisas que não são de natureza imediatamente religiosa, isto é, a
inspiração atinge apenas os ensinamentos e preceitos doutrinários, as verdades
desconhecidas dos autores humanos. Esta teoria tem muitas falhas: Ela não
explica como os escritores bíblicos poderiam mesclar seus conhecimentos
sobrenaturais ao registrarem uma sentença, e serem rebaixados a um nível
inferior ao relatarem um fato de modo natural. Ela não fornece a psicologia
daquele estado de espírito que deveria envolver os escritores bíblicos ao se
pronunciarem infalivelmente sobre matérias de doutrina, enquanto se desviam a
respeito dos fatos mais simples da história. Ela não analisa a relação
existente entre as mentes divina e humana, que produz tais resultados. Ela não
distingue entre coisas que são essenciais à fé e à pratica e àquelas que não
são. Erasmo, Grotius, Baxter, Paley, Doellinger e Strong compartilham desta
teoria.
2) Teoria
do Ditado ou Mecânica: Afirma que os escritores bíblicos foram meros instrumentos (amanuenses), não seres cujas
personalidades foram preservadas. Se Deus tivesse ditado as Escrituras, o seu
estilo seria uniforme. Teria a dicção e o vocabulário do divino Autor, livre
das idiossincrasias dos homens (Rm.9:1-3; IIPe.3:15,16). Na verdade, o autor
humano recebeu plena liberdade de ação para a sua autoria, escrevendo com seus
próprios sentimentos, estilo e vocabulário, mas garantiu a exatidão da mensagem
suprema com tanta perfeição como se ela tivesse sido ditada por Deus. Não há
nenhuma insinuação de que Deus tenha ditado qualquer mensagem a um homem além
daquela que Moisés transcreveu no monte santo, pois Deus usa e não anula as suas
vontades. Esta teoria, portanto, enfatiza sobremaneira a autoria divina ao
ponto de excluir a autoria humana.
3) Teoria
da Inspiração Natural ou Intuição: Afirma que a inspiração é simplesmente um
discernimento superior das verdades moral e religiosa por parte do homem
natural. Assim como tem havido artistas, músicos e poetas excepcionais, que
produziram obras de arte que nunca foram superadas, também em relação as
Escrituras houve homens excepcionais com visão espiritual que, por causa de
seus dons naturais, foram capazes de escrever as Escrituras. Esta é a noção
mais baixa de inspiração, pois enfatiza a autoria humana a ponto de excluir a
autoria divina. Esta teoria foi defendida pelos pelagianos e unitarianos.
4) Teoria
da Inspiração Mística ou Iluminação: Afirma que inspiração é simplesmente uma
intensificação e elevação das percepções religiosas do crente. Cada crente tem
sua iluminação até certo ponto, mas alguns tem mais do que outros.
Se esta teoria fosse verdadeira, qualquer
cristão em qualquer tempo, através da energia divina especial, poderia escrever
as Escrituras. Schleiermacher foi quem disseminou esta teoria. Para ele
inspiração é "um despertamento e excitamento da consciência religiosa,
diferente em grau e não em espécie da inspiração piedosa ou sentimentos
intuitivos dos homens santos". Lutero, Neander, Tholuck, Cremer,
F.W.Robertson, J.F.Clarke e G.T.Ladd defendiam esta teoria, segundo Strong.
5)
Inspiração dos Conceitos e não das Palavras: Esta teoria pressupõe pensamentos à
parte das palavras, através da qual Deus teria transmitido idéias mas deixou o
autor humano livre para expressá-las em sua própria linguagem. Mas idéias não
são transferíveis por nenhum outro modo além das palavras. Esta teoria ignora a
importância das palavras em qualquer mensagem. Muitas passagens bíblicas
dependem de uma das palavras usadas para a sua força e valor. O estudo
exegético das Escrituras nas línguas originais é um estudo de palavras, para que o conceito possa ser alcançado através
das palavras, e não para que palavras sem importância representem um conceito.
A Bíblia sempre enfatiza suas palavras e não um simples conceito (ICo.2:13;
Jo.6:63;17:8; Ex.20:1; Gl.3:16).
6) Graus
de Inspiração: Afirma
que há inspiração em três graus. Sugestão, direção, elevação, superintendência,
orientação e revelação direta, são palavras usadas para classificar estes
graus. Esta teoria alega que algumas partes da Bíblia são mais inspiradas do
que outras. Embora ela reconheça as duas autorias, dá margem a especulação
fantasiosa.
7)
Inspiração Verbal Plenária: É o poder inexplicado do Espírito Santo agindo sobre os
escritores das Sagradas Escrituras, para orientá-los (conduzi-los) na
transcrição do registro bíblico, quer seja através de observações pessoais,
fontes orais ou verbais, ou através de revelação divina direta, preservando-os
de erros e omissões, abrangendo as palavras em gênero, número, tempo, modo e
voz, preservando, desse modo, a inerrância das Escrituras, e dando à ela autoridade
divina.
a) Observação Pessoal:
(IJo.1:1-4).
b) Fonte Oral: (Lc.l:1-4).
c) Fonte Verbal:
(At.17:18; Tt.1:12; Hb.1:1).
d) Revelação Divina
Direta: ( Ap.1:1-ll; Gl.1:12).
e) Gênero: (Gn.3:15).
f) Número: (Gl.3:16).
g) Tempo: (Ef.4:30;
Cl.3:13).
h) Modo: (Ef.4:30;
Cl.3:13).
i) Voz: (Ef.5:18)
j) Explicação dos itens e,f,g,h,i: A inspiração verbal plenária
fica assim estabelecida. Em Gn.3:15 o pronome hebraico está no gênero
masculino, pois se refere exclusivamente a Cristo (Ele te ferirá a cabeça...). Em Gl.3:16 Paulo faz citação de um
substantivo hebraico que está no singular, fazendo, também, referência
exclusiva a Cristo. Em Ef.4:30 e Cl.3:13 o verbo perdoar encontra-se, no grego,
no modo particípio e no tempo presente, o que significa que o perdão judicial de Deus realizado no
passado, quando aceitamos a Cristo, estende-se por toda a nossa vida,
abrangendo o perdão dos pecados do passado, do presente, e do futuro (IJo.1:9
trata do perdão do pecado doméstico
e não do judicial). Jesus Cristo reconheceu a inspiração verbal plenária quando
declarou que nem um til (a menor
letra do alfabeto hebraico) seria omitido da lei(Mt.5:18 e Lc.16:l7).
III.
ILUMINAÇÃO: É a influência ou ministério do Espirito Santo que capacita todos
os que estão num relacionamento correto com Deus para entender as Escrituras (I
Cor.2:12; Lc.24:32,45; IJo.2:27).
A iluminação não inclui a responsabilidade de
acrescentar algo às Escrituras (revelação) e nem inclui uma transmissão
infalível na linguagem (inspiração) daquele que o Espirito Santo ensina.
A iluminação é diferenciada da revelação e da
inspiração no fato de ser prometida a todos os crentes, pois não depende de
escolha soberana, mas de ajustamento pessoal ao Espirito Santo. Além disso a
iluminação admite graus podendo aumentar ou diminuir (Ef.1:16-18; 4:23;
Cl.1:9).
A iluminação não se
limita a questões comuns, mas pode atingir as coisas profundas de Deus
(ICo.2:10) porque o Mestre Divino está no coração do crente e, portanto, ele
não houve uma voz falando de fora e em determinados momentos, mas a mente e o
coração são sobrenaturalmente despertados de dentro (ICo.2:16). Este
despertamento do Espírito pode ser prejudicado pelo pecado, pois é dito que o
cristão que é espiritual discerne todas as coisas (ICo.2:15), ao passo que aquele
que é carnal não pode receber as verdades mais profundas de Deus que são
comparadas ao alimento sólido (ICo.2:15;3:1-3; Hb.5:12-14).
A iluminação, a
inspiração e a revelação estão estritamente ligadas, porém podem ser
independentes, pois há inspiração sem revelação (Lc.1:1-3; IJo.1:1-4);
inspiração com revelação (Ap.1:1-11); inspiração sem iluminação (IPe.1:10-12);
iluminação sem inspiração (Ef.1:18) e sem revelação (ICo.2:12; Jd.3); revelação
sem iluminação (IPe.1:10-12) e sem inspiração (Ap.10:3,4; Ex.20:1-22). E’ digno
de nota que encontramos estes três ministérios do Espirito Santo mencionados em
uma só passagem (ICo.2:9-13); a revelação no versículo 10; a iluminação no
versículo 12 e a inspiração no versículo 13.
IV. AUTORIDADE: Dizemos que a bíblia é um livro que tem
autoridade porque ela tem influência, prestígio e credibilidade (quanto a
pureza na transcrição ou tradução), por isso deve ser obedecida porque procede
de fonte infalível e autorizada.
A autoridade está
vinculada a inspiração, canonicidade e credibilidade, sem os quais a autoridade
da Bíblia não se estabeleceria. Assim, por ser inspirado, determinado trecho
bíblico possui autoridade; por ser canônico, determinado livro bíblico possui
autoridade, e por ter credibilidade, determinadas informações bíblicas possuem
autoridade, sejam históricas, geográficas ou científicas.
Entretanto, nem tudo aquilo que é inspirado é
autorizado, pois a autoridade de um livro trata de sua procedência, de sua autoria, e, portanto, de sua veracidade. Deus é
o Autor da Bíblia, e como tal ela possui autoridade, mas nem tudo que está
registrado na Bíblia procedeu da boca de Deus. Por exemplo, o que Satanás disse
para Eva foi registrado por inspiração, mas não é a verdade (Gn.3:4,5); o
conselho que Pedro deu a Cristo (Mt.16:22); as acusações que Elifaz fez contra
Jó (Jó.22:5-11), etc. Nenhuma dessas declarações representam o pensamento de
Deus ou procedem dEle (procedem apenas por inspiração), e por isso não têm
autoridade. Um texto também perde sua autoridade quando é retirado de seu
contexto e lhe é atribuído um significado totalmente diferente daquele que tem
quando inserido no contexto. As palavras ainda são inspiradas, mas o novo
significado não tem autoridade.
V.
CREDIBILIDADE OU VERACIDADE: Um livro tem credibilidade se relatou
veridicamente os assuntos como aconteceram ou como eles são; e quando seu texto
atual concorda com o escrito original.
Nesse caso credibilidade relaciona-se ao conteúdo do livro (original), e a
pureza do texto atual (cópia ou tradução). Por exemplo, as palavras de Satanás
em Gn.3:4,5 são inspiradas, mas não possuem autoridade, porque não é verdade,
porém tem credibilidade ou veracidade (quanto a sua transcrição) porque foram
registradas exatamente como Satanás disse. As veracidade das palavras de
Satanás não se relacionam ao o que
ele pronunciou, mas sim como ele as
pronunciou.
A)
Credibilidade do A.T.: Estabelecida por três fatos:
1)
Autenticado por Jesus Cristo: Cristo recebeu o A.T. como relato verídico. Ele
endossou grande número de ensinamentos do A.T., como, por exemplo: A criação do
universo por Deus (Mc.3:19), a criação do homem (Mt.19:4,5), a existência de
Satanás (Jo.8:44), o dilúvio (Lc.17:26,27), a destruição de Sodoma e Gomorra
(Lc.17:28-30), a revelação de Deus a Moisés na sarça (Mc.12:26), a dádiva do
maná (Jo.6:32), a experiência de Jonas dentro do grande peixe (Mt.12:39,40).
Como Jesus era Deus manifesto em carne, Ele conhecia os fatos, e não podia se
acomodar a idéias errôneas, e, ao mesmo tempo ser honesto. Seu testemunho deve,
portanto, ser aceito como verdadeiro ou Ele deve ser rejeitado como Mestre
religioso.
2) Prova
Arqueológica e Histórica:
a) Arqueológica: Através da arqueologia, a batalha dos reis registrada
em Gn.14 não pode mais ser posta em dúvida, já que as inscrições no Vale do
Eufrates "mostram indiscutivelmente que os quatro reis mencionados na
Bíblia como tendo participado desta expedição não são, como era dito
displicentemente, ‘invenções etnológicas’, mas sim personagens históricos
reais. Anrafel é identificado como o Hamurábi cujo maravilhoso código de leis
foi tão recentemente descoberto por De Morgan em Susa". (Geo. F. Wright, O
Testemunho dos Monumentos à Verdade das Escrituras).
As tábuas Nuzi
esclarecem a ação de Sara e Raquel ao darem suas servas aos seus maridos
(Jack Finegan, Ligth from the Ancient Past = Luz de um Passado Antigo).
Os hieróglifos egípcios indicam que a escrita
já era conhecida mais de 1.000 anos antes de Abraão (James Orr, The Problem of
the Old Testament = O Problema do Velho Testamento).
A arqueologia também confirma o fato de Israel
ter vivido no Egito, como escravo, e ter sido liberto (Melvin G. Kyle, The
Deciding Voice of the Monuments = A Voz Decisória dos Monumentos).
Muitas outras confirmações da veracidade dos
relatos das Escrituras poderiam ser apresentadas, mas esses são suficientes e
devem servir como aviso aos descrentes com relação às coisas para as quais
ainda não temos confirmação; podemos encontrá-la a qualquer hora.
b)
Histórica: A
história fornece muitas provas da exatidão das descrições bíblicas. Sabe-se que
Salmanezer IV sitiou a cidade de Samaria, mas o rei da Assíria, que sabemos ter
sido Sargom II, carregou o povo para a Síria (IIRs.17:3-6). A história mostra
que ele reinou de 722-705 a.C. Ele é mencionado pelo nome apenas uma vez na
Bíblia (Is.20:1). Nem Beltsazar (Dn.5), nem Dario, o Medo (Dn.6) são mais
considerados como personagens fictícios.
3) As
Escrituras possuem Integridade:
a)
Integridade Topográfica e Geográfica: As descobertas arqueológicas provam que os
povos, línguas, os lugares e os eventos mencionados nas Escrituras são
encontrados justamente onde as Escrituras os localizam, no local exato e sob as
circunstâncias geográficas exatas descritas na Bíblia.
b)
Integridade Etnológica ou Racial: Todas as afirmações bíblicas sobre raças têm
sido demonstradas como corretas com os fatos etnológicos revelados pela
arqueologia.
c)
Integridade Cronológica: A identificação bíblica de povos, lugares e acontecimentos
com o período de sua ocorrência é corroborada pela cronologia síria e pelos
fatos revelados pela arqueologia.
d)
Integridade Histórica: O registro dos nomes e títulos dos reis está em harmonia
perfeita com os registros seculares, conforme demonstrados por descobertas
arqueológicas.
e)
Integridade Canônica: A aceitação pela igreja em toda a era cristã, dos livros
incluídos nas Escrituras que hoje possuímos, representa o endosso de sua
integridade.
Exemplares do A.T. e do N.T. impressos em 1.488
e 1.516 d.C., concordam com os exemplares atuais. Portanto a Bíblia como a
possuímos hoje, já existia há 400 anos passados.
Quando essas Bíblias foram impressas, certo
erudito tinha em seu poder mais de 2.000 manuscritos. Esse número é sem dúvida
suficiente para estabelecer a genuinidade e credibilidade do texto sagrado, e
tem servido para restaurar ao texto sua pureza
original, e fornecem proteção contra corrupções futuras (Ap.22:18-19;
Dt.4:2;12:32).
Enquanto a integridade canônica da Bíblia se
baseia em mais de 2.000 manuscritos, os escritos seculares, que geralmente são
aceitos sem contestação, baseiam-se em apenas uma ou duas dezenas de
exemplares.
As quatro Bíblias mais antigas do mundo,
datadas entre 300 e 400 d.C., correspondem exatamente a Bíblia como a possuímos
atualmente.
B)
Credibilidade do N.T.: Estabelecida por cinco fatos:
1)
Escritores Competentes: Possuíam as qualificações necessárias, receberam
investidura do Espirito Santo e assim escreveram não somente guiados pela
memória, apresentações de testemunho oral e escrito, e discernimento
espiritual, mas como escritores qualificados pelo Espirito Santo.
2)
Escritores Honestos: O
tom moral de seus escritos, sua preocupação com a verdade, e a circunstância de
seus registros indicam que não eram enganadores intencionais mais sim homens
honestos. O seu testemunho pôs em perigo seus interesses materiais, posição
social, e suas próprias vidas. Por quê razão inventariam uma estória que
condena a hipocrisia e é contrária a suas crenças herdadas, pagando com suas
próprias vidas?
3)
Harmonia do N.T.: Os
sinópticos não se contradizem mas suplementam um ao outro. Os vinte e sete
livros do N.T. apresentam um quadro harmonioso de Jesus Cristo e Sua obra.
4) Prova
Histórica e Arqueológica:
a)
Histórica: O
recenseamento quando Quirino era Governador da Síria (Lc.2:2), os atos de
Herodes o Grande (Mt.2:16-18), de Herodes Antipas (Mt.14:1-12), de Agripa I
(At.12:1), de Gálio (At.18;12-17), de Agripa II (At.25:13-26:32) etc.
b)
Arqueológica: As
descobertas arqueológicas confirmam a veracidade do N.T. Quirino (Lc.2:2) foi
Governador da Síria duas vezes (16-12 e 6-4 a.C.), sendo que Lucas se refere ao
segundo período.
Lisânias, o Tetrarca é mencionado em uma
inscrição no local de Abilene na época a que Lucas se refere.
Uma inscrição em Listra registra a dedicação da
estátua Zeus (Júpiter) e Hermes (Mercúrio), o que mostra que esses deuses eram
colocados no mesmo nível, no culto local, conforme descrito em At.14:12.
Uma inscrição de Pafos faz referência ao
Proconsul Paulo, identificado como Sergio Paulo (At.13:7).
VI.
INERRÂNCIA OU INFALIBILIDADE: Inerrância significa que a verdade é transmitida
em palavras que, entendidas no sentido em que foram empregadas, entendidas no
sentido que realmente se destinavam a ter, não expressam erro algum.
A inspiração garante a inerrância
da Bíblia. Inerrância não significa que os escritores não tinham faltas na
vida, mas que foram preservados de erros os seus ensinos. Eles podem ter tido
concepções errôneas acerca de muitas coisas, mas não as ensinaram; por exemplo,
quanto à terra, às estrelas, às leis naturais, à geografia, à vida política e
social etc.
Também não significa que não se possa
interpretar erroneamente o texto ou que ele não possa ser mal compreendido.
A inerrância não nega a
flexibilidade da linguagem como veículo de comunicação. É muitas vezes difícil
transmitir com exatidão um pensamento por causa desta flexibilidade de
linguagem ou por causa de possível variação no sentido das palavras.
A Bíblia vem de Deus. Será que Deus nos deu um
livro de instrução religiosa repleto de erros? Se ele possui erros sob a forma
de uma pretensa revelação, perpetua os erros e as trevas que professa remover.
Pode-se admitir que um Deus Santo adicione a sanção do seu nome a algo que não
seja a expressão exata da verdade?
Diz-se que a Bíblia é
parcialmente verdadeira e parcialmente falsa. Se é parcialmente falsa, como se
explica que Deus tenha posto o seu selo sobre toda ela? Se ela é parcialmente
verdadeira e parcialmente falsa, então a vida e a morte estão a depender de um
processo de separação entre o certo e o errado, que o homem não pode realizar.
Cristo declara que a incredulidade é ofensa
digna de castigo. Isto implica na veracidade daquilo que tem de ser crido,
porque Deus não pode castigar o homem por descrer no que não é verdadeiro
(Sl.119:140,142; Mt.5:18; Jo.10:35; Jo.17:17).
Aqueles que negam a infalibilidade da Bíblia,
geralmente estão prontos a confiar na falibilidade de suas próprias opiniões.
Como exemplo de opinião falível encontramos aqueles que atribuem erro à passagem
de IRs.7:23 onde lemos que o mar de fundição tinha dez côvados de diâmetro de
uma borda até a outra, ao passo que um cordão de trinta côvados o cingia em
redor. Sendo assim, tem-se dito que a Bíblia faz o valor do Pi ser 3 em vez de 3,1416. Mas
uma vez que não sabemos se a linha em redor era na extremidade da borda ou
debaixo da mesma, como parece sugerir o versículo seguinte (v.24) não podemos
chegar a uma conclusão definitiva, e devemos ser cautelosos ao atribuir erro ao
escritor.
Outro exemplo utilizado para contrariar a
inerrância da Bíblia, encontra-se em ICo.10:8 onde lemos que 23.000 homens
morreram no deserto, enquanto que Nm.25:9 diz que morreram 24.000. Acontece que
em Números nós temos o número total dos mortos, ao passo que em I aos Coríntios
nós temos o número parcial que somado ao restante dos homens relacionados nos
versículos 9 e 10, deverá contabilizar o total de 24.000.
A inerrância não
abrange as cópias dos manuscritos, mas atinge somente os autógrafos, isto é, os
originais. Desse modo encontramos os seguintes tipos de erros nos manuscritos:
A) Erros
Involuntários: Cometidos
pelos escribas do N.T. devido a sua falta ou defeito de visão, defeitos de
audição ou falhas mentais.
1) Falhas
de Visão: Em
Rm.6:5 muitos manuscritos (MSS) tem ama
(juntos), mas há alguns que trazem alla
(porém). Os dois lambdas juntos
deram ao copista a idéia de um mi. Em
At.15:40 onde há eplexamenoc (tendo
escolhido) aparece no Códice Beza epdexamenoc
(tendo recebido) onde o lambda maiúsculo é confundido com um delta
maiúsculo.
Há também confusão de sílabas, como é o caso de
ITm.3:16 onde o manuscrito D traz homologoumen ôs (nós confessamos que) em
vez de homologoumenôs (sem dúvida).
O erro visual chamado parablopse (um olhar ao lado) é facilitado pelo homoioteleuton, que é o final igual de
duas linhas, levando o escriba a saltar uma delas, ou pelo homoioarchon, que são duas linhas com o mesmo início.
O Códice Vaticano, em Jo.17:15, não contém as
palavras entre parênteses: "Não rogo que os tires do (mundo, mas que os
guardes do) maligno". Consultando o N.T. grego veremos que as duas linhas
terminavam de maneira idêntica, em autos
ek tou, no manuscrito que o
escriba de B copiava.
Lc.18:39 não aparece nos manuscritos 33, 57, 103 e b, devido a um final de
frase igual na sentença anterior no manuscrito do qual eles se derivam.
O Códice Laudiano tem um exemplo no versículo 4
do Capítulo 2 do livro de Atos: "Et
repleti sunt et repleti sunt omnes spiritu sancto", sendo este em caso
de adição, chamado ditografia, que é
a repetição de uma letra, sílaba ou palavras.
2) Falhas
de Audição: Era
costume muitos escribas se reunirem numa sala enquanto um leitor lhes ditava o
texto sagrado. Desse modo o ouvido traía o escriba até mesmo quando o copista
solitário ditava a si próprio. Em Rm.5:1 encontramos um destes casos, onde as
variantes echômen e echomen foram confundidas. IPe.2:3
também apresenta um caso semelhante com as variantes cristos (Cristo) e crestos
(gentil), esta última encontrada nos manuscritos K e L.
No grego coinê as vogais e ditongos
pronunciavam-se de modo igual dentro das respectivas classes. É o caso de
ICo.15:54 onde o termo nikos (vitória),
foi confundido por neikos (conflito),
sendo que aparece em P46 e B como "tragada foi a morte no
conflito".
Em Ap.15:6 onde se lê "vestidos de linho puro" a palavra grega linon é substituída por lithon nos manuscritos A e C "vestidos de pedra pura". Desse modo uma só letra que o
ouvido menos apurado não entendeu direito e que produziu completa mudança de
sentido, torna-se erro grosseiro e hilariante.
3) Falhas
da Mente: Quando
a mente do escriba o traía, chegava a cometer erros que variavam desde a
substituição de sinônimos, como o caso da preposição ek por apo, até a
transposição de letras dentro de uma palavra, como o caso de Jo.5:39, onde
Jesus disse "porque elas dão testemunho de mim" (ai marturousai) e o escriba do manuscrito D escreveu "porque elas pecam a respeito de mim" (hamartanousai).
B) Erros
Intencionais: Erros
que não se originaram de negligência ou distração dos escribas, mas antes de
suspeita de alteração, principalmente doutrinária.
1)
Harmonização: Ao
copiar os sinópticos, o escriba era levado a harmonizar passagens paralelas. E’
o caso de Mt.12:13 onde se lê "...estende a tua mão. E ele estendeu; e ela
foi restaurada como a outra". Em alguns manuscritos de Marcos o texto pára
em "restaurada", sendo que em outros o escriba acrescentou as
palavras "como a outra" para harmonizá-lo com Mateus.
Outro tipo de harmonização ocorre quando os
escribas faziam o texto do N.T. conformar-se com o A.T. Por exemplo, em Mc.1:1
os escribas do W e Bizantinos mudaram "no profeta
Isaias" para "nos profetas" porque verificaram que a citação não
é só de Isaias.
2)
Correções Doutrinárias: Certo escriba, copiando Mt.24:36 omitiu as palavras
"nem o Filho", pois o escriba sabia que Jesus era onisciente, e
deduziu que alguém havia cometido erro (Alefe,
W, Bizantino).
Os manuscritos da Velha Latina e da Versão
Gótica apresentam como acréscimo, em Lc.1:3, a frase "e ao Espírito
Santo" como "empréstimo" de At.15:28.
3)
Correções Exegéticas: Passagens de difícil interpretação eram alvo dos escribas
que tentavam completar o seu sentido através de interpolação e supressões.
Um caso de interpolação encontra-se em Mt.26:15
onde as palavras "trinta moedas de prata" foram alteradas para
"trinta estateres" nos MSS D,
a e b, afim de definir o tipo de
moeda mencionada. Mais tarde outros escribas (dos manuscritos 1, 209 e h) que conheciam os dois textos, juntaram-no produzindo a frase
"trinta estateres de prata".
4)
Acréscimos Naturais ou de Notas Marginais: Determinado leitor do Códice 1518 anotou nas margens de Tg.1:5 a
expressão êgeumatikês kai ouk
anthrôpines (espiritual e não humana). Quando este Códice foi copiado, o
escriba do manuscrito 603 incluiu
esta expressão no texto: "Se alguém de vós tem falta de sabedoria
espiritual e não humana, peça-a a Deus...".
VII.
AUTENTICIDADE OU GENUINIDADE: Dizemos que um livro é genuíno ou autêntico
quando ele é escrito pela pessoa ou pessoas cujo nome ele leva, ou, se anônimo,
pela pessoa ou pessoas a quem a tradição antiga o atribui, ou, se não for
atribuído a algum autor ou autores específicos, à época que a tradição lhe
atribui.
O Credo
Apostólico não é genuíno porque não foi composto pelos apóstolos. As Viagens de Gulliver é genuíno, tendo
sido escrito por Dean Swift, embora seus relatos sejam fictícios. Atos de Paulo não é genuíno, pois foi
escrito por um sacerdote contemporâneo de Tertuliano. Desse modo a
autenticidade relaciona-se ao autor
e à época do livro, e todos os
livros da Bíblia possuem autenticidade comprovada pela tradição histórica e
pela arqueologia (Gl.6:11; Cl.4:18).
VIII.
CANONICIDADE: Por canonicidade das Escrituras queremos dizer que, de acordo com
"padrões" determinados e fixos, os livros incluídos nelas são
considerados partes integrantes de uma revelação completa e divina, a qual,
portanto, é autorizada e obrigatória em relação à fé e à prática.
A palavra grega kanon derivou do hebraico kaneh que significa junco ou vara de medir (Ap.21:15); daí
tomou o sentido de norma, padrão ou regra (Gl.6:16; Fp.3:16).
A) A
fonte da Canonização: A Canonização de um livro da Bíblia não significa que a
nação judaica ou a igreja tenha dado a
esse livro a sua autoridade canônica; antes significa que sua autoridade, já
tendo sido estabelecida em outras bases
suficientes, foi consequentemente reconhecida
como pertencente ao cânon e assim declarado
pela nação judaica e pela igreja cristã.
B) O
Critério Canônico (do Novo Testamento): Adotam-se 5 critérios canônicos.
1)
Apostolicidade:
O livro deveria ter sido escrito por um dos apóstolos ou por autor que tivesse
relacionamento com um dos apóstolos (imprimatur
apostólico).
2)
Universalidade: Quando
era impossível demonstrar a autenticidade apostólica, o critério de uso e
circulação do livro na comunidade cristã universal era considerado para sua
aferição canônica. O livro deveria ser aceito universalmente pela igreja para
dela receber o seu imprimatur.
3)
Conteúdo do Livro: O
livro deveria possuir qualidades espirituais, e qualquer ficção que nele fosse
encontrada tornava o escrito inaceitável.
4)
Inspiração:
O livro deveria possuir evidências de inspiração.
5)
Leitura em Público:
Nenhum livro seria admitido para leitura pública na igreja se não possuísse
características próprias. Muitos livros eram bons e agradáveis para leitura
particular, mas não podiam ser lidos e comentados publicamente, como se fazia
com a lei e os profetas na sinagoga. É a esta leitura que Paulo exorta Timóteo
a praticar (ITm.4:13).
C)
Conclusão da Canonização (do Novo Testamento)
1)
Concílio Damasino de Roma em 382 d.C.
2)
Concílio de Cartago em 397 d.C.
IX.
ANIMAÇÃO: É o poder inerente à Palavra de Deus para transmitir vitalidade ou
vida ao ser humano.
O Sl.19:7 diz que "a lei do Senhor é
perfeita, e restaura a alma..."
e no versículo 8 diz que "os preceitos do Senhor são retos, e alegram o coração..."
Somente algo que tem vida pode transmitir vida,
e por isso mesmo somente a Bíblia, e nenhum outro livro pode fazê-lo, pois a
Bíblia sendo a Palavra de Deus é viva: "A Palavra de Deus é viva e eficaz, e mais cortante do
que espada alguma de dois gumes, e penetra
até a divisão da alma e do espírito e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do
coração"(Hb.4:12).
A) A
Palavra de Deus é Viva: O elemento da vida que aqui se declara é mais do que
aquilo que agora tem autoridade em contraste com o que já se tornou letra
morta; é mais do que alguma coisa que fornece nutrição. Mas as Escrituras são
vivas porque é o hálito (espírito) do
Deus Vivo (Jo.6:63; Jó 33:4). Assim tanto a Palavra Escrita (Logos) como a Palavra Falada (rêma) são possuidoras de vida. Não há
diferença essencial entre elas, pois são apenas duas formas diferentes dela
existir.
O trecho de Hb.4:12 diz que a Palavra de Deus é
viva, e eficaz, é cortante, penetra e discerne.
Em IPe.1:23 lemos que a Palavra de Deus vive e permanece para sempre. Assim a
Palavra de Deus possui vida eternamente (Sl.19:9;119:160).
B) A
Palavra de Deus é Eficaz: A palavra grega usada neste trecho é energês de onde temos a palavra energia. Trata-se da energia que a vida vital fornece. Por isso a
Palavra de Deus é comparada a uma poderosa espada de dois gumes com poder para
cortar, penetrar e discernir. Quando o Espirito Santo empunha a Sua espada (Ef.6:17)
uma energia é liberada dela para animar e realizar o seu propósito
(Is.55:10,11). E’ com este poder inerente à Palavra de Deus que o Espirito
Santo convence os contradizentes (Jo.16:8; ICo.2:4) porque a Palavra de Deus é
como uma dinamite com poder (dinamos,
Rm.1:16) para salvar e destruir (IICo.10:4,5; IICo.2:14,17; IJo.2:14;
Jr.23:24).
A Palavra de Deus é como um nutriente alimento
que fornece forças (IPe.2:2; Mt.4:4). Paulo escrevendo aos tessalonicenses,
revela sua gratidão a Deus por haverem eles recebido a Palavra de Deus a qual
estava operando (energizando)
eficazmente neles (ITs.2:13). Paulo conhecia o poder da Palavra de Deus, por
isso recomendou aos anciãos da igreja que a observassem porque ela "tem
poder para edificar e dar herança entre todos os que são santificados"
(At.20:32; Jo.5:39).
1) É
eficaz na regeneração: Comparada com a "água" (Jo.3:5; Ef.5:26), a
Palavra de Deus tem poder para regenerar, pois ela coopera com o E.S. na
realização do novo nascimento (IPe.1:23; Tt.3:5; Jo.15:3; Ez.36:25-27; Jo.6:63;
Tg.1:18,21; ICo.4:15; Rm.1:16).
2) É
eficaz na santificação: A Palavra de Deus tem poder para santificar (Jo.17:17;
Ef.5:26; Ez.36:25,27; IIPe.1:4; Sl.37:31;119:11). Com efeito, a santificação é
pela fé (At.15:9 e 26:18) e a fé vem pelo ouvir a Palavra de Deus (Rm.10:17).
3) É
eficaz na edificação: A Palavra de Deus tem poder para edificar (IPe.2:2;
At.20:32; IIPe.3:18).
X.
PRESERVAÇÃO: É a operação divina que garante a permanência da Palavra Escrita,
com base na aliança que Deus fez acerca de Sua Palavra Eterna (Sl.119:89,152;
Mt.24:35; IPe.1:23; Jo.10:35).
Os céus e a terra passarão (Hb.12:26,27;
IIPe.3:10) mas a Palavra de Deus permanecerá (Mt.24:35; Hb.12:28; Is.40:8;
IIPe.1:19).
A preservação das Escrituras, como o cuidado
divino para a sua criação e formação do cânon, não foi acidental, nem
incidental, mas sim o cumprimento de uma promessa divina. A Bíblia é eterna,
ela permanece porque nenhuma Palavra que Jeová tenha dito pode ser removida ou
abalada; nem uma vírgula ou um ponto do testemunho divino pode passar até que
seja cumprido.
"Quando pensamos
no fato da Bíblia ter sido objeto especial de infindável perseguição, a
maravilha da sua sobrevivência se transforma em milagre... Por dois mil anos, o
ódio do homem pela Bíblia tem sido persistente, determinado, incansável e
assassino. Todo esforço possível tem sido feito para corroer a fé na inspiração
e autoridade da Bíblia, e inúmeras operações têm sido levadas a efeito para
fazê-la desaparecer. Decretos imperiais têm sido passados ordenando que todas
as cópias existentes da Bíblia fossem destruídas, e quando essa medida não
conseguiu exterminar e aniquilar a Palavra de Deus, ordens foram dadas para que
qualquer pessoa que fosse encontrada com uma cópia das Escrituras fosse
morta." (Arthur W. Pink. The Divine Inspiration of the Bible =
A Inspiração Divina da Bíblia).
A Bíblia permanece até
hoje porque o próprio Deus tem se empenhado em preservá-la. Quando o rei
Jeoiaquim queimou um rolo das Escrituras, Deus mesmo determinou a Jeremias que
rescrevesse as palavras que haviam sido queimadas (Jr.36:27,28), e ainda
determinou maldições sobre o rei, por haver tentado destruir a Palavra de Deus
(Jr.36:29,31). Ademais Deus acrescentou ao segundo rolo outras palavras que não
se encontravam no primeiro (Jr.36:32), pois a Palavra de Deus sempre há de
prevalecer sobre a palavra do homem (Jr.44:17,28; At.19:19,20).
Deve ficar esclarecido
que Deus tem preservado apenas a Sua Palavra inspirada, aquilo que deve ser
considerado como revelação de Deus, e por isso mesmo não foi preservado e não
faz parte do Cânon Sagrado (ICr.29:29; IICr.9:29;12:15;13:22;20:34;
IICr.24:27;26:22;33:19). Em IICo.7:8 Paulo faz menção a uma segunda carta que
não consta do Novo Testamento, sendo que a segunda carta de Coríntios que temos
na nossa Bíblia, provavelmente deveria ser a terceira.
Hoje a estratégia de
Satanás sobre a Palavra de Deus é diferente, pois já que ele não consegue
destruí-la, procura desacreditá-la (negando sua inspiração) e corrompê-la com
interpretações pervertidas da verdade (ITm.4:1,2; IITs.2:9-12). A nós pois,
como igreja, cabe a responsabilidade de defender e preservar a verdade
(ITm.3:15) com o mesmo anseio que caracterizava a vida de Paulo (Fp.1:7,16).
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