CRISTOLOGIA (Doutrina de Cristo)



CRISTOLOGIA (Doutrina de Cristo)

INTRODUÇÃO

A Doutrina de Cristo na História.

(a) Relação entre antropologia e Cristologia. Há uma relação muito estreita entre a doutrina do homem e a de Cristo. A primeira trata do homem, criado à imagem de Deus e dotado de verdadeiro conhecimento, justiça e santidade, masque, pela voluntária transgressão da lei de Deus, despojou-se da sua verdadeira humanidade e se transformou em pecador. Salienta à distância Ética que há entre Deus e o homem, distância resultante da queda do homem e que, nem o homem nem os anjos podem cobrir, e, como tal, é virtualmente um grito pelo socorro divino. A Cristologia é em parte a resposta a esse grito. Ela nos põe a par da obra objetiva de Deus em Cristo construindo uma ponte sobre o abismo e eliminando à distância. A doutrina nos mostra Deus vindo ao homem para afastar as barreiras entre Deus e o homem pela satisfação das condições da lei em Cristo, e para restabelecer o homem em sua bendita comunhão. A antropologia já dirige a atenção à provisão da graça de Deus para uma aliança de companheirismo com o homem que prove uma vida de bem-aventurada comunhão com Deus; mas a aliança só é eficiente em Cristo e por meio de Cristo. E, portanto, a doutrina de Cristo como Mediador da aliança deve vir necessariamente em seguida. Cristo, tipificado e prenunciado no Velho testamento como o Redentor do homem, veio na plenitude do tempo, para tabernacular entre os homens e levar a efeito uma reconciliação eterna.

(b) A Doutrina de Cristo antes da Reforma Até o Concílio de Calcedônia: na literatura cristã primitiva, Cristo sobressai como humano e divino, como Filho do homem, mas também como o Filho de Deus. Seu caráter sem pecado é defendido, e ele é considerado como legitimo objeto de culto.

(c) Após o Concílio de Calcedônia A Idade Média acrescentou muito pouca coisa à doutrina da pessoa de Cristo. Devido a várias influências, como as da Ênfase à imitação de Cristo, das teorias sobre a expiação e do desenvolvimento da doutrina da missa, a igreja se apegou fortemente à plena humanidade de Cristo. Há divindade de Cristo, diz Mackintosh. Passou a ser vista mais como o coeficiente infinito elevando a ação e a paixão humanas a um valor infinito. E, contudo, alguns dos escolásticos expressaram em sua Cristologia um conceito do cético de Cristo. Pedro Lombardo não hesitava em dizer que, com relação à sua humanidade, Cristo não era absolutamente nada. Mas este niilismo foi condenado pela igreja. Alguns novos pontos foram salientados por Tomaz de Aquino.Segundo ele a pessoa do Logos tornou-se composta na encarnação, e sua união com a natureza humana impediu esta última de chegar a ter uma personalidade independente. A natureza humana de Cristo recebeu dupla graça em virtude de sua união com o Logos, (1) a gratia unionis (graça da união), que lhe comunicou uma dignidade especial, de modo que até se tornou objeto de culto, e (2) a gratia habitualis (graça habitual), que a mantinha em sua relação com Deus. O conhecimento humano de Cristo era duplo a saber, um conhecimento infuso e um conhecimento adquirido. Há duas vontades em Cristo, mas a causalidade última pertence à vontade divina, à qual a vontade humana está sempre sujeita.

(d) A doutrina de Cristo depois da Reforma. Até o século dezenove: A reforma não trouxe grandes mudanças à doutrina da pessoa de Cristo. Tanto a Igreja Romana como as igrejas da Reforma subscreveram a doutrina de Cristo nos termos de sua formulação pelo Concílio de Calcedônia. Os teólogos reformados (Calvinistas) viam nessa doutrina luterana uma espécie de eutiquianismo ou de fusão das duas naturezas de Cristo. A teologia reformada também ensina uma comunicação de atributos, mas a concebe de maneira diferente. Ela crê que, depois da encarnação, as propriedades de ambas as naturezas podem ser atribuídas à pessoa única de Cristo. Pode-se dizer que a pessoa de Cristo È onisciente, mas também limitada, em qualquer tempo particular, a um único lugar. Daí, lemos na Segunda Confissão Helvética: Reconhecemos, pois, que há no único e mesmo Jesus, nosso Senhor, duas naturezas ó a natureza divina e a humana, e dizemos que estas são ligadas ou unidas de modo tal, que não são absorvidas, confundidas ou misturadas, mas, antes, são unidas ou conjugadas numa pessoa (sendo que as propriedades de cada uma delas permanecem a salvo e intactas), de modo que podemos cultuar a um Cristo, nosso Senhor, e não a dois. Portanto, não pensamos, nem ensinamos que a natureza divina em Cristo sofreu, ou que Cristo, de acordo com a sua natureza humana, ainda está no mundo e, assim, em todo lugar.

(e) no século dezenove. Assim foi introduzido o segundo período cristológico, assim chamado. O novo ponto de vista era antropológico, e o resultado foi antropocêntrico. Isto evidenciou -se destrutivo para a FÉ Cristã.Uma distinção de maior alcance e perniciosa foi feita entre o Jesus histórico, delineado pelos escritores de evangelhos, e o Cristo Teológico, fruto de fértil imaginação dos pensadores teológicos, e cuja imagem reflete-se agora nos credos da igreja. O Cristo sobrenatural abriu alas para um Jesus humano, e a doutrinadas duas naturezas abriu alas para a doutrina de um homem divino. O verbo se fez carne significa que Deus se encarnou na humanidade, de modo que a encarnação expressa realmente a unidade de Deus e o homem. Ao que parece, a encarnação foi meramente o auge de um processo racial. Enquanto a humanidade em geral considera Jesus unicamente como um mestre humano, a fé o reconhece como divino e vê que, por sua vinda ao mundo, a transcendência de Deus torna-se imanência. Encontramos aqui uma identificação panteísta do humano e do divino na Doutrina de Cristo.

II. Nomes de Cristo.

a) O Nome JESUS -· Nome Jesus é a forma grega do hebraico Jehoshua, Joshua, ( Js 1:1, Zc 3:1, ou Jeshua - forma normalmente usada nos livros históricos pós-exílicos), ( Ed 2:2). A derivação deste nome tão comum do Salvador se oculta na obscuridade. Quanto a uma outra derivação, de Jeho ( Jehovah) e Shua, socorro (Gotthilf) cf.Kuyper, Dict. Dogm. O nome foi dado a dois bens conhecidos tipos de Jesus do Velho testamento.

b) O nome Cristo· Se Jesus é o nome pessoal, Cristo é o nome oficial do Messias.… O equivalente de Mashiach do velho testamento, (de Maschach, ungir) e, assim, significa o ungido. Normalmente os reis e os sacerdotes eram ungidos, durante a antiga dispensação, (x 29:7, Lv 4:3, Jz 9:8, 1 Sm 9:16, 10:1, 2 Sm 19:10. O rei era chamado o ungido de Jeová, (1 Sm 24:10). Somente um exemplo de unção de profeta está registrado, (1 Rs 19:16), mas provavelmente há referencias a isto em (Sl 105:15 eIs 61:1). O óleo usado na unção desses oficiais simbolizava o Espírito de Deus (Is 61:1, Zc 4: 1-6), e a unção representava a transferência do Espírito para a pessoa consagrada, (1 Sm 10:1,6,10; 16:13,14). A unção era sinal visível de (1) designação para um oficio, (2) estabelecimento de uma relação sagrada e o resultante caráter sacrossanto da pessoa ungida, (1 Sm 24:6; 26:9; 2Sm 1:14) e (3) comunicação do Espírito ao ungido, (1 Sm 16:13) cf: também (2 Co 1:21,22). O velho testamento se refere à unção do Senhor em (Sl 2:2; 45:7), e o novo testamento em (At 4:27: 10:38). Cristo foi instalado em seus ofícios, ou designado para estes, desde a eternidade, mas historicamente a sua unção se efetuou quando ele foi concebido pelo Espírito Santo (Lc 1:35), e quando recebeu o Espírito Santo, especialmente por ocasião do seu batismo, (Mt 3:16); (Mc 1:10); (Lc 3:22; Jo 1:32; 3:34). Serviu para qualificá-lo para a sua grande tarefa. Primeiro, o nome Cristo foi aplicado ao Senhor como um substantivo comum, com o artigo, mas gradativamente se desenvolveu e se tornou um nome próprio, sendo então usado sem o artigo.

c) O nome Filho do Homem. · No velho testamento este nome se acha em (Sl 8:4, Dn 7:13) e muitas vezes na profecia de Ezequiel. Na obra sobre A Auto revelação de Jesus, divide as passagens em que ocorre o nome em quatro classes: (1) Passagens que se referem claramente à vinda escatológica do filho do homem, como, por exemplo (Mt 16:27,28; Mc 8:38, 13:26) etc. E paralelas; (2) passagens que falam particularmente do sofrimento, morte e (às vezes) ressurreição de Jesus, como por exemplo (Mt 17:22; 20:18, 19,28 ;12:40, etc. E paralelas. (3) Passagens do quarto evangelho em que o lado super-humano, celestial, e a pré-existência de Jesus são salientados, como, por ex.: (1:51,3:13,14; 6:27,53,62; 8:28e outras). (4) Um pequeno grupo de passagens nas quais Jesus considera a sua natureza humana (Mc 2:27,28; Jo 5:27;6:27,51,62). Chamando-se a Si próprio Filho do homem Jesus infundiu a messianidade o seu espírito centralizado nas realidades celestiais. E as alturas a que assim ele elevou a sua pessoa e a sua obra, bem pode ter tido algo que ver com a hesitação dos seus primeiros seguidores, quanto a chamá-lo pelo). Mais celestial de todos os títulos. d) O nome Filho de Deus. · O nome Filho de Deus foi variadamente aplicado no velho testamento (1) ao povo de Israel (x 4:22; Jr 31:9, Os 11:1), (2) a oficiais de Israel, especialmente ao prometido rei da casa de Davi (2 Sm 7: 14, Sl 89:27), (3) a anjos (JÛ 1:6; 2:1;38:7, Sl 29:1,89:6); e (4) as pessoas piedosas em geral (Gen. 6:2, Sl 73:15, Pv 14:26). No novo testamento vemos Jesus apropriando-se do nome e outros também os atribuindo a Ele. O nome é aplicado a Jesus em quatro sentidos diferentes, nem sempre mantidos em distinção na Escritura, mas às vezes combinados.1. No sentido oficial ou Messiânico - (Mt 3:17; 17:5, Mc 1:11;9:7, Lc 3:22; 9:35).2. No sentido Trinitário - às vezes o nome é utilizado para indicara divindade essencial de Cristo (Mt 11:27; 14:28-33; 16:16, e paralelas, 21:33-46, e paralelas, 22:41-46; 26:63, e paralelas. Vemos a filiação ontológica e a filiação messiânica entrelaçadas também em várias passagens joaninas, nas quais Jesus dá a entender claramente que Ele é o Filho de Deus, conquanto n„o uso nome, como (6:69; 8:16,18,23; 10:15,30; 14:20, etc.). Nas epistolas, Cristo é designado muitas vezes como o Filho de Deus no sentido metafísico (Rm 1:3; 8:3, Gl 4:4, Hb 1:1), e muitas outras passagens. 3. No sentido Natalício - Cristo é também chamado Filho de Deus em virtude do seu nascimento sobrenatural. O nome é assim aplicado a Ele na bem conhecida passagem do Evangelho segundo Lucas, na qual a). Origem). Da sua natureza humana é atribuída à direta e sobrenatural paternidade de Deus, a saber (Lc 1:35). Indicações do nome, também em (Mt 1:18-24, Go 1:13). Naturalmente, este significado do nome também é negado pela teologia modernista, que não crê nem no nascimento virginal, nem na concepção sobrenatural de Cristo.4. No sentido Ético-religioso - … neste sentido que o nome Filhos de Deus é aplicado aos crentes no novo testamento. … possível que tenhamos um exemplo da aplicação do nome Filho de Deus a Jesus nesse sentido Ético-religioso em Mt 17:24-27. A teologia modernista entende que a filiação de Jesus é unicamente uma filiação Ético-religiosa, um tanto elevado, é certo, mas não essencialmente diferente da dos seus discípulos.5. O nome Senhor (Kyrios) - O nome Senhor é aplicado a Deus na Septuaginta, (a) como equivalente de Jeová, (b) como tradução de Adonai; e (c) como versão de um título honorifico aplicado a Deus (principalmente Adonai Js 3:11 ; Sl 97:5). No novo testamento, (a) como uma forma polida e respeitosa de tratamento (Mt 8:2; 20:33), (b) como expressão de posse e autoridade, sem nada implicar quanto ao caráter e autoridade divinas de Cristo (Mt 21:3; 24:42); (c) com a máxima conotação de autoridade, expressando um caráter exaltado e, de fato, praticamente equivalendo ao nome Deus (Mc 12:36,37 ; Lc 2:11;3:4 ; At 2:36 ; 1 Co 12:3; Fp 2:11). Mas há exemplos do seu uso mesmo antes da ressurreição, onde evidentemente já se alcançara o valor especificamente divino do título como em (Mt 7:22; Lc 5:8 ; Jo 20:28).

III. Os Ofícios de Cristo. A idéia dos Ofícios na História… costume falar de três ofícios com relação à obra de Cristo, a saber, os ofícios proféticos, sacerdotais e reais. Houve quem lhes aplicasse a idéia de sucessão cronológica, entendendo que Cristo agiu como profeta durante o seu Ministério Público na terra,como Sacerdote em seus sofrimentos finais e em sua morte na cruz, e como Rei age agora, que está assentado à mão direita de Deus.· A importância da Distinção Como Cristo foi criado por Deus, ele foi profeta,sacerdote e rei e, nestas qualidades, foi dotado de conhecimento e entendimento, de justiça e santidade, e de domínio sobre a criação inferior.O pecado afetou a vida toda do homem e se manifestou,não somente como ignorância e cegueira, erro e falsidade, mas também como injustiça, culpa e corrupção moral ; e, em acréscimo,como enfermidade, morte e destruição. Daí, foi necessário que Cristo, como o nosso Mediador, fosse profeta, sacerdote e rei. Como Profeta, ele representa Deus para como o homem, como Sacerdote, ele representa o homem na presença de Deus; e como Rei, ele exerce domínio e restabelece o domínio original do homem. O racionalismo só reconhece o seu oficio profético, o misticismo, somente o seu oficio sacerdotal, e a doutrina do milênio da ênfase unilateral ao seu oficio real futuro.A. Oficio profético: As passagens clássicas de (Ex 7:1 e Dt 18:18), indicam a presença de dois elementos na função profética, um passivo e o outro ativo, um receptivo e, o outro produtivo. O profeta recebe relações divinas em sonhos, visões ou comunicações verbais, e as transmite ao povo, quer oralmente, quer visivelmente, nas ações proféticas, (Nm 12:6-8; Is 6, Jr 1:4-10, Ez 3: 1-4,17).Destes dois elementos, o passivo é o mais importante, porquanto ele governa o elemento ativo. Sem receber, o profeta não pode dar, e ele não pode dar mais do que recebe. Mas o elemento ativo também é parte integrante. O que faz de alguém um profeta é a vocação divina, a ordem para comunicar a outros a revelação divina.

Provas BÍBLICAS do ofício Profético de Cristo. A Escritura atesta de várias maneiras o oficio profético de Cristo.Ele é prenunciado como profeta em (Dt 18:15), passagem aplicada a Cristo em (At 3:22,23). Ele fala de si como profeta em (Lc 13:33). Alem disso, alega que traz uma mensagem do Pai, (Jo 8:26-28 ; 12:49,50 ; 14:10,24 ; 15:15; 17:8,20), prediz coisas futuras, (Mt 24:3-35, Lc 19:41-44) e fala com singular autoridade(Mt 7:29). Suas poderosas obras serviam para autenticara sua mensagem. Em vista disso tudo, não admira que o povo o tenha reconhecido como profeta (Mt 21:11,46; Lc 7:16;24:19, Jo 3:2; 4:19; 6:14; 7:40 ; 9:17).B. O oficio sacerdotal Sacerdote era representante do homem junto a Deus. Tinha o especial privilégio de aproximar-se de Deus, e de falar e agir em favor do povo. … verdade que, na antiga dispensação, os sacerdotes também eram mestres, mas o seu ensino diferia do ensino dos profetas. Ao passo que estes acentuavam os deveres responsabilidades e privilégios morais e espirituais, aqueles salientavam as observâncias rituais envolvidas num adequado acesso a Deus. A passagem clássica na qual são dadas as verdadeiras características do sacerdote e na qual sua obra é em parte designada, é (Hb 5:1). Estão indicados ali os seguintes elementos :(1) O sacerdote é tomado dentre os homens para ser o seu representante, (2) È constituído por Deus, cf o versículo 4, (3) age no interesse dos homens nas coisas pertencentes a Deus, isto é, nas coisas religiosas, (5) sua obra especial consiste em oferecer dádivas e sacrifícios pelos pecados. Mas a obra do sacerdote incluía ainda mais que isso. Ele também fazia intercessão pelo povo (Hb 7:25) e os abençoava em nome de Deus, (Lv 9:22).

Provas BÍBLICAS do oficio Sacerdotal de Cristo. O Velho Testamento prediz e prefigura o sacerdócio do redentor vindouro. H· claras referencias a isto em (Sl 110:4 e Zc 6:13). Alem disso, o sacerdócio do Velho Testamento, e particularmente o sumo sacerdote, claramente prefiguravam um Messias sacerdotal. No Novo Testamento há somente um único livro em que ele é chamado sacerdote, qual seja, a epistola aos Hebreus, mas ali o nome é repetidamente aplicado a Ele (3:1; 4:14; 5:5;6:20;7:26; 8:1). Ao mesmo tempo, muitos outros livros do Novo Testamento se referem à obra sacerdotal de Cristo.C. O oficio Real. Na qualidade de Segunda Pessoa da Trindade Santa, o Filho Eterno, Cristo, naturalmente, comparte o domínio de Deus sobre todas as suas criaturas. Seu trono está estabelecido nos céus e o seu reino domina sobre tudo (Sl 103:19). Em geral podemos definir a realeza de Cristo como o Seu poder oficial de governar todas as coisas do céu e da terra, para a glória de Deus e para a execução do seu propósito de salvação. Todavia, podemos distinguir entre um regnum gratiae e um regnum potentiae (entre um reino de graça e um reino de poder).

O Reinado Espiritual de Cristo
1. Natureza deste Reinado - O reinado espiritual de Cristo é o Seu governo real sobre o regnum gratiae, isto é, sobre o seu povo ou sua igreja. … um reinado espiritual porque se relaciona com uma esfera espiritual. … o governo mediatário estabelecido nos corações e nas vidas dos crentes. Ademais, é espiritual porque leva direta e imediatamente a um fim espiritual porque administrado, não pela força ou por meios externos, mas pela Palavra e pelo Espírito, que é o Espírito de verdade, de sabedoria, de justiça e santidade, de graça e misericórdia. Este reinado revela-se na reunião da igreja e em seu governo, proteção e perfeição. A BÍBLIA fala a seu respeito em muitos lugares, tais como (Sl 2:6; 45:6,7; cf. Hb 1:8,9 ; 132:11; Is 9:6,7; Jr 23:5,6, Mq 5:2, Zc 6:13, Lc 1:33; 19:27,38; 22:29 ; Jo 18:36,37; At2:30-36); e outros. A natureza espiritual deste reinado é indicada pelo fato, entre outros, de que Cristo é repetidamente chamado Cabeça da Igreja, (Ef 1:22; 4:15; 5:23; Cl 1:18 ;2:19). Este vocábulo, no sentido em que é aplicado a Cristo, é, nalguns casos, praticamente equivalente, a Rei (Cabeça num sentido figurado, alguém revestido de autoridade), como em (1Co 11:3 ; Ef 1:22 ; 5:23), noutros casos, porém é empregado no sentido literal e orgânico (Ef 4:15; Cl 1:18 ; 2:19) e, em parte, também em (Ef 1:22).

IV. O Estado de Cristo (O Estado de Humilhação) Com base na referida passagem de Fp, pode-se dizer que o elemento essencial e central do estado de humilhação acha-se no fato de que Ele, que era o Senhor de toda a terra, o supremo Legislador, colocou-se debaixo da lei para desincumbir-se das suas obrigações federais e penais a favor do seu povo. Ao fazê-lo, Ele tornou legalmente responsável por nossos pecados e sujeitos à maldição da lei. Este estado do Salvador, concisamente expresso nas palavras de (Gl 4:4) nascido sob a lei, reflete-se na condição que lhe é correspondente e que é descrita nos vários estágios da humilhação. Enquanto a Teologia luterana fala em nada menos que oito estágios da humilhação de Cristo, a Teologia Reformada geralmente enumera cinco, a saber. (1) encarnação, (2) sofrimento, (3) morte, (4) sepultamento, e(5) descida ao hades.(1) –

A encarnação e o nascimento de Cristo a. O sujeito da encarnação: Não foi o trino Deus, mas a Segunda pessoa da trindade que assumiu a natureza humana. Por essa razão; É melhor dizer que o Verbo se fez Carne, do que dizer que Deus se fez homem. Ao mesmo tempo, devemos lembrar que cada uma das pessoas divinas agiu na encarnação, (Mt 1:20, Lc 1:35, Jo 1:14, At 2:30, Rm 8:3, Gl 4:4, Fp 2:7). Não é possível falar da encarnação de alguém que não teve existência prévia. Esta preexistência é claramente ensinada na Escritura: No principio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. (Jo 1:1). Eu desci do CÉU, (Jo 6:38) Pois conheceis a graça do nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, se fez pobre por amor de Vós, para que pela sua pobreza vos tornassem ricos. (2 Co 8:9). Pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se semelhança de homens (Fp 2: 6,7). Vindo pois,plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho (Gl 4:4). O preexistente Filho de Deus assume a natureza humana e se reveste de carne e sangue humanos, um milagre que ultrapassa o nosso limitado entendimento. Isto mostra claramente que o infinito,pode entrar em relações finitas, e de fato entra, e que, de algum modo, o sobrenatural pode entrar na vida histórica do mundo. A nossa confissão afirma que a natureza de Cristo foi concebida no ventre da bendita Virgem Maria pelo poder do Espírito Santo, sem o concurso do homem. Isto salienta o fato de que o nascimento de Cristo absolutamente não foi um nascimento comum, mas, sim, um nascimento sobrenatural em Virtude do qual Ele foi chamado Filho de Deus. O elemento mais importante,com relação ao nascimento de Jesus, foi a operação sobrenatural do Espírito Santo, pois só por este meio foi possível o nascimento virginal. A BÍBLIA se refere a esta característica em (Mt 1:18-20 ; Lc 1:34,35 ; Hb 10:5).

(2) Os Sofrimentos Do Salvador (Is 53: 6,10) (a) Ele sofreu durante toda a sua vida - Seu sofrimento foi um sofrimento consagrado, e cada vez mais atroz conforme o fim se aproximava. O sofrimento iniciado na encarnação, chegou finalmente ao clímax no passio magna (grande paixão) no fim da sua vida. Foi quando pesou sobre Ele toda a ira de Deus contra o pecado. (b) sofreu no corpo e na alma - Não foi a simples dor física, como tal, que constituiu a essência do seu sofrimento, mas essa dor acompanhada de angústia de alma e da consciência meditaria do pecado da humanidade, que pesava sobre ele. Além disso, a BÍBLIA ensina claramente que Cristo sofreu em ambos. Ele agonizou no jardim, onde a sua alma esteve profundamente triste até à morte, e também ele foi esbofeteado, açoitado e crucificado. (c) Seus sofrimentos nas tentações - As tentações de Cristo são parte integrante dos seus sofrimentos. Essas tentações se acham na vereda do sofrimento (Mt 4:1-11, e paralelas; Lc 22:28; Jo 12:27; Hb 4:15 ; 5:7,8). Seu ministério público iniciou-se com um período de tentação, e mesmo após esse período as tentações se repetiam, a intervalos, culminando no trevoso GetsÍmani. Só penetrando em praticamente nas provações dos homens em suas tentações, Jesus poderia ser o Sumo Sacerdote compassivo que foi e atingir as culminâncias da perfeição provada e triunfante (Hb 4:15, 5:7 -9). (3) - A Morte do Salvador -Deus impôs judicialmente a sentença da morte do Mediador, desde que este se incumbiu voluntariamente de cumprir a pena do pecado da raça humana. Estes sofrimentos foram seguidos por sua morte na cruz. Ele esteve sujeito, não somente à morte física, mas também à morte eterna, se bem que sofreu esta intensiva, e não extensivamente, quando agonizou no jardim e quando bradou na cruz, Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? Num curto período de tempo, Ele suportou a ira infinita contra o pecado até o fim, e saiu vitorioso. O caráter judicial de sua morte. Era deveras essencial que Cristo não sofresse morte natural, nem acidental, e não morresse pelas mãos de um assassino, mas sob sentença judicial. Alem disso, Deus dispôs providencialmente que o Mediador fosse julgado e sentenciado por um juiz romano. Os romanos tinham talento para a lei e a Justiça, representavam o poder judicial mais alto do mundo. A sentença de Pilatos foi também Sentença de Deus, embora sobre bases inteiramente diferentes. A crucificação não era uma forma judaica de castigo, mas, sim, romana. Era considerada tão infame e ignominiosa, que não podia ser aplicada a cidadãos romanos, mas somente à escória da humanidade, aos escravos e criminosos mais indignos. Ao mesmo tempo, padeceu morte amaldiçoada, e assim provou que se fez maldição por nós (Dt 21:23; Gl 3:13).

(4) - O Sepultamento do Salvador… evidente que o seu sepultamento também fez parte de sua humilhação. Note-se especialmente o seguinte: (a) Voltar o homem ao pó, do qual fora tomado, È descrito na Escritura como parte da punição do pecado (Gn 3:19); (b) Diversas declarações da Escritura implicam que a permanência do Salvador na sepultura foi uma humilhação (Sl 16:10, At 2:27,31; 13:34,35). Foi uma descida ao Hades, em si mesmo sombrio e lúgubre, lugar de corrupção, se bem que ele foi guardado da corrupção; (c) Ser sepultado é ir para baixo e, portanto, uma humilhação. O sepultamento dos cadáveres foi ordenado por Deus para simbolizar a humilhação do pecador.

(5) - A Descida do Salvador ao Hades Esta doutrina na Confissão Apostólica (Credo). Depois de mencionar os sofrimentos, a morte e o sepultamento do Senhor, a confissão prossegue com estas palavras : Desceu ao inferno (hades). Mais tarde, porém, a forma romana do Credo acrescentou o artigo em questão após sua menção do sepultamento. Base bíblica para a expressão -a - (Ef 4:9),-b- (1 Pe 3: 18,19), -c-(1 Pe 4: 4 - 6), -d- (Sl 16: 8 - 10) - (comp. At 2: 25-7,30,31).

Elaboração Pr. Sérgio Feliciano
Atualizado e modificado por Pindaré Gospel

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